segunda-feira, agosto 23, 2004

MISTÉRIOS

Entrego-me como a folha que bóia na enxurrada, não importo-me com o destino.
Viajo pelo seu itinerário, cruzo os rios caudalosos de seus braços, derreto-me na sua saliva doce e quente, deslizo pelo seu dorso.
Ele encontra-me e alimento-o com minha seiva, nutrindo nossos sonhos.
Alimentado, ele busca-me num bailado sincrônico de pernas e braços que imitam a arquitetura milenar dos labirintos e catedrais.
Ao transpor esse complexo arranjo de traços, ele penetra minha nave central e celebra a descoberta.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lu, minha Lu
como seria o deleite de deixar-se batisar pelo tempo, pelo fluxo dos dias, pelo círculo maluco das horas? Como seria, ser folha abstrata, vaga, imprecisa, no turbilhão das águas que não se demoram?

Belo texto, minha querida. Linda, tua nova casa Parabéns,

Lia.

Lu disse...

Lia, saudades tua, guria!
Gostou da nova casa? Tenho feito de tudo para manter o clima aconchegante da anterior.
Ah, Lia, ultimamente é exatamente assim que tenho me sentido, uma folha levada pela chuva... sensação ímpar, querida ;o)

jayme disse...

Lindo esse complexo arranjo de traços. Desenhas bem com as palavras.

Lu disse...

Jayme, se desenho bem com as palavras é porque tens olhos de admirá-las. Beijão.