terça-feira, agosto 17, 2004

DORMÊNCIA

Sabe esses dias em que tudo sobra, tudo transborda e provoca prostração?
Em todos os lados a imagem é do exagero. Diante de tal enormidade, alguns detalhes se extraviam no fluxo do olhar.
Contemplo a vida como quem assiste um filme enfadonho e repetido.
Desfarei esse desnivelamento – penso eu. Tomo providências de ócio e prazer.
Desligo a minha TV. Afago o gato – preguiçosos, eu e ele.
Fecho os olhos numa atitude displicente, afrouxo a roupa e viajo por um novo itinerário que ajuste as imagens disformes e agigantadas ao meu foco natural, de modo que eu nada perca, que nada se perca... assim, lentamente, tudo toma o seu lugar e sua inteireza.
Os limites, eles podem ser estendidos. As coisas podem ganhar proporções dentro de mim, mas não fora.
O lado de fora é seco, áspero. Não entende os anseios de uma alma intensa e impetuosa, que recusa o morno.
Bom mesmo é ser grande no lado de dentro, onde as vísceras pulsam
forte, oscilam entre temperaturas e texturas e beijam a grandiloqüência do Nada.
The white skirt, B. Klossowski.

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