terça-feira, abril 29, 2008

Espasmos # 8

Ancorou seu corpo junto ao meu. Depois de ficar imóvel por um tempo, tentou com imensa dificuldade dirigir-se ao tombadilho.
Observando a lentidão dos seus movimentos e o vazio no olhar, tomei-lhe as mãos cuidadosamente; tive medo que ele quebrasse ao meu toque, estilhaçasse em mosaicos indescritíveis e impossíveis de juntar.
Não relutou em segurar a bóia que lancei. Agarrou-a com vontade e debruçou-se entregue ao resgate.
Não rompi seu silêncio. Ofereci meu porto até que, por si só, ele também descubra a viração, a vibração da vida.

sábado, abril 26, 2008

Piaf - um hino ao amor

Há algum tempo aceno com a possibilidade de escrever um texto sobre o filme Piaf, mas nunca o fiz. As razões são muitas, mas a mais pungente é que toda vez que arrisquei rabiscar qualquer coisa, impressão, emoção, achava o texto muito aquém daquilo que foi despertado em mim.
Dessa vez também não será diferente. Há muito compreendi os caprichos da palavra: às vezes, ela é poderosa e indiscutível; outras, ela é impotente, incapaz de traduzir o arrepio na pele, a lágrima vertida.
Foi aí que constatei que Piaf se assemelha muito com a palavra: misteriosa, reveladora, ininteligível, contida, soberba, efusiva, elegante, ordinária, controversa, resumida. Piaf era tudo isso e muito mais.
Piaf era previsível. Sim, pre-vi-sí-vel. Dificilmente alguém com seu histórico de vida não perpetuaria as marcas da dor, as mazelas da infância, a crueldade das experiências, a amargura do abandono. Era preciso ser supra-humano para passar incólume por tudo isso. E Piaf era só humana... humana como eu ou como você. É por isso que sua trajetória nos encanta tanto. Sua e outras tantas histórias demasiadamente humanas. São essas que nos marcam, porque criam laços, identidades, nos faz pertencer ao mesmo clã, ao mesmo pó. Somente as experiências afins são comunicadas com tanta delicadeza e força.
Clark Kent, Peter Park, Bruce Wayne e demais heróis distraem-nos daquilo que somos; modificam o foco, a perspectiva da nossa condição, despertam desejos de ser o que jamais seremos. São sonhos, entretenimento, utopia. E não estou dizendo que sejam dispensáveis. Não são. A vida sem esses elementos seria insuportável. Precisamos alimentar quimeras pra conseguirmos agüentar a brutal realidade de sermos apenas quem somos.
Foi por isso demorei tanto a escrever sobre os sentimentos que o filme despertou em mim. Custei a entender que tanta semelhança embaçava o brilho do sonho.
E há momentos na vida em que o que se quer é ser mulher-gato, bela adormecida, mulher maravilha, qualquer coisa que nos faça esquecer, ainda que por breves momentos, que somos Piaf, Stephen Biko, Camille Claudel, Dorothy Parker, Virgínia Woolf, enfim, pessoas que assumiram sua condição e viveram suas experiências baseadas na realidade que as cercava.
Piaf, para além da cantora maravilhosa, intensa; para além da voz refinada e marcante, era só Piaf, por isso, inesquecível.

sexta-feira, abril 18, 2008

quarta-feira, abril 16, 2008

Espasmos # 7

Sim, a vida ainda vibra em mim... ela vibra na constância das minhas oscilações.
Vibra quando tudo arde, quando o sangue goteja, quando os corais se esquecem por segundos de seus habitantes naturais e vêm enfeitar meu corpo, despertando-me para o meu colorido: meu cabelo-alga, minha pele-escama, meus braços-nadadeiras... agora sou porto de mim.

sábado, abril 12, 2008

Espasmos # 6

A verborragia não se esgotara.
Num tom entre o descrente e o irônico, uma outra voz retrucava o mesmo refrão até o ponto de reproduzir ecos que me lembravam de que eu não poderia fugir ao meu destino.
Então, escolheu o melhor diamante – límpido e duro – tatuando sobre minha pele a pergunta tão preciosa:
“Mata-me a curiosidade, conta-me, a vida ainda vibra?”

terça-feira, abril 08, 2008

Espasmos # 5

E alguém sussurrou, ao longe, algo que me pareceu ser assim:

“Diante do Tempo, a vida
pode parecer uma irrelevância
(Talvez o seja mesmo).
O que fazer se o irrelevante
é tudo o que possuo?
Fechar uma porta,
Apagar a luz
Faz toda a diferença.
Não tenho a eternidade para saber...”

sexta-feira, abril 04, 2008

Novidades e um pouquinho de escracho

Em breve este blogue contará com a participação de uma antiga amiga.
Apesar do pouco tempo disponível e de uma agenda atribuladíssima, ela se dispôs a arranjar um horário para atendê-los no Consultório da Valentina.
Quem viver, verá.

quinta-feira, abril 03, 2008

Espasmos # 4

A folha estava amarrotada num claro gesto de quem deitou fora uma idéia que não servia ou não conseguia desenvolver. Bem no centro do papel, em destaque, lia-se a palavra “memória”.
Queria lembrar-me de algo? Ou esquecer? Não importa, agora de posse da memória de outrem, escreveria sobre vidas que não me pertencem, mas que são parte de mim.