quarta-feira, dezembro 23, 2009

Feliz Natal

Queridos amigos que persistem em dividir a leitura deste Glossolalias (ultimamente, diria que tem sofrido de mudez), desejo um Natal divino e um Ano Novo sereno, com aquela sensação boa de rede na varanda.
Beijos.

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


A
ssim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinícius de Moraes

terça-feira, outubro 20, 2009

Lançamento de livro

Para quem estiver em Sampa, não perca a oportunidade, pelamordedeus!!

Chico Buarque1

quinta-feira, outubro 15, 2009

Das pequenas alegrias

Diante de tanta urgência do cotidiano, pouco é o tempo que sobra para ler e, por consequência, menor ainda é o tempo para escrever. Comigo funciona dessa maneira, ler e escrever são atividades afins. Tudo que leio é técnico, visa à excelência do trabalho que tento desenvolver, mas a tecnicidade é dura, não tem alma.

Dói em mim a angústia de não poder expressar em palavras aquilo que tem me consumido, mas não vou sofrer mais do que o necessário. É o que consigo fazer agora, é o que tenho capacidade de administrar.

Sei que novamente virá o tempo da semeadura, do encantamento, das palavras fluidas e plenas.

Então, por hora, faço como me ensinaram: aproveito as pequenas alegrias que a vida me proporciona. E a pequena alegria do dia, que compartilho com os amigos que entendem o poder transformador das palavras, é a escolha de um poema meu para uma coletânea a ser publicada pela Universidade de Brasília.


Concurso Nacional de Poesia Cassiano Nunes

Espaço Cassiano Nunes/Biblioteca Central – UnB


Divulgamos o resultado do Prêmio de Poesia Cassiano Nunes.

Os poetas ganhadores são:


Primeiro lugar – Luiz Martins da Silva

Segundo lugar – José Carlos Mendes Brandão

Terceiro lugar – João Pedro Fagerlande


Os demais poetas selecionados, numerados de 1 a 100 e listados em ordem alfabética, têm o direito de publicação de seu poema escolhido.

1. Alexandre Magno Gonzalez de Lacerda

2. Alexsandre Escorsi Messias Moro

3. Altair Cirilo dos Santos

4. Andrea Perazzo Barbosa Souto

5. Andréia Glaicielly Martins Rocha

6. Andressa de Souza Silva

7. Anéris Paes

8. Antonio Claudio de Araújo Júnior

9. Arthur Rodrigues Clemente

10. Athanis Molas Rogrigues

11. Bruna Martins Viana

12. Camila Marcelo Pinto Oliveira

13. Carlos Alberto Barros

14. Carlos Augusto Sousa de Oliveira

15. Rafael Millioti Ramalho

16. Daniel Rocha Barbosa

17. Diego Martins de Mesquita

18. Dora Duarte

19. Edna Rúbia Mendes Facundo

20. Ednéia Rodrigues Ribeiro

21. Eduardo Menezes da Silva

22. Elias Araújo

23. Elias Daher Junior

24. Eugênio Sousa Ibiapina Parente

25. Fabiana Motta Tavares

26. Fábio Martins Moreira

27. Flávia da Silveira Perez

28. Gabriel Cardoso do Amaral

29. Geraldo Trombin

30. Guilherme Oliveira de Brito

31. Guilherme Scalzili

32. Henrique Fialho Barbosa

33. Hércules Souza Teixeira

34. Iara Maria Carvalho

35. Ilton Gurgel Fernandes

36. Ítalo Augusto Camargos Peireira

37. Jacqueline Beatriz Teixeira Barbosa

38. Jaques Jesus

39. José Lima Garcia Júnior

40. José Luiz Amorim

41. Juliana Rodrigues de Morais

42. Júlio César Gentil de Mello

43. Jussara Gabin

44. Karla Calasans de Mello

45. Kátia Rodrigues Baroni

46. Kybelle de Oliveira Rodrigues

47. Leandro Zacarias Gomide

48. Leila Saads

49. Leonardo Motta Tavares

50. Lucas Mendes de Oliveira

51. Luciana da Silva Melo

52. Luciano Dionísio dos Santos

53. Lucie Losephe de Lannoy

54. Luiz Gustavo de Souza Alves

55. Marcel Francisco Veiga

56. Marcelo Ferreira Carámbula

57. Márcia Andréia Reis Pereira de Carvalho

58. Marcos Alberto de Souza Oliveira

59. Marina Mara da Silveira Chaves

60. Marton da Silva Santos

61. Matheus Gregório Vinhal e Silva

62. Michele Eduarda Brasi de Sá

63. Nadyr Angela Berge Ceschim Oiticica

64. Odemir Paim Peres Júnior

65. Oswaldo Pullen Parente

66. Paola Daniella da Fonseca Rodrigues

67. Paulo Emílio Pereira Ferraz

68. Paulo Franco

69. Paulo Rômulo Aquino de Souza

70. Pedro Gontijo Menezes

71. Pedro Vinícius Cortez Nobre

72. Perpétua Conceição da Cunha Amorim

73. Rafael Gomes Fernandes

74. Renan Alves Melo

75. Ricardo Lahud

76. Robledo Neves Cabral Filho

77. Rodrigo Domit

78. Rodrigo Vasconcelos Rodrigues Pinheiro

79. Ruth Meyre Mota Rodrigues

80. Sadat Gonçalves de Oliveira

81. Salatiel Ribeiro Gomes

82. Sara Mayara Martins Borges

83. Savigny Machado Lima

84. Sidnei Alves de Oliveira

85. Sônia Maria Carriel Brandão

86. Suzane Lima Conceição

87. Tarciana Barbosa de Freitas

88. Teresinha de Jesus Gonçavels Motta

89. Terezinha Santos de Amorim

90. Thais Lima Rocha

91. Thaisa Cristina Comelli Dutra

92. Thiago Cordeiro Moulin

93. Thiago José Rodrigues de Paula

94. Tiago da Silva Frota

95. Valberto Cardoso da Silva

96. Valter Rosa da Silva Júnior

97. Walther Morera-Santos

98. Whisner Fraga

99. Willians Rodrigues da Silva

100. Zilda Pedro da Silva

quarta-feira, setembro 02, 2009

Pizzas e afins

A ideia é interessante e tem como objetivo, penso eu, refrescar nossa memória sobre toda a lama que se produz por aí e por aqui; para que não naturalizemos o conceito e ele faça parte de nossa vida como algo que não nos comove.
Quisera eu que a corrupção fosse artigo raro, somente possível de ser visto em museus...

sexta-feira, agosto 14, 2009

Dai-me paciência, Senhor!

Das muitas aberrações produzidas pelo Brasil (e Deus sabe que somos ultramegasupermaxiuber férteis na produção de políticos corruptos – ops, desculpem. Não sou de pleonasmos, mas é que políticos corruptos parece uma locução adjetiva – e celebridades de plástico), esta merece destaque pelo absurdo e pelo texto delicioso de Celso Sabadin.

Rancorosa, Xuxa ofende Gramado: Eles tiveram de me engolir

Celso Sabadin, enviado especial a Gramado

Noite de horror e indignação em Gramado. Alguma mente desprovida de qualquer senso cinematográfico decidiu coroar Xuxa Meneghel como a Rainha do Cinema. É inclusive a manchete do Diário do Festival, que circula aqui no evento: Gramado Reverencia sua Rainha. E, pior: Kikito especial homenageia a rainha do cinema, da música e da televisão. No país de Fernanda Montenegro, de Aneci Rocha, de Laura Cardoso, de Helena Ignez, de Tônia Carreiro, de sei lá... Hebe Camargo, caramba... O Festival de Gramado, pateticamente, tenta vender ao público a mentira que Xuxa é a rainha do cinema. Tudo por um punhado de mídia. Como se vendem barato os organizadores do Festival de Gramado que decidem quais serão os homenageados!


Ontem (13/8), a noite de entrega do tal Kikito especial para Maria da Graça Meneghel foi um show de breguice deslavada que os 37 anos de Gramado não mereciam ter visto. Antes de mais nada, desde o dia anterior, montavam-se esquemas de segurança para a chegada da "Rainha". Não pode isso, não pode aquilo, vai ser assim, vai ser assado, ninguém pode falar com ela, ela não vai responder a nenhuma pergunta, não pode chegar perto, bla, bla, bla... Nem Barack Obama, se a Gramado viesse, mereceria tanta distinção.


Claro que tudo começou com atraso. Xuxa chegou ao chamado
Palácio dos Festivais (cada Rainha tem o Palácio que merece) cercada do gigantesco alvoroço dos fãs. Alvoroço, aliás, que é a finalidade básica dos organizadores do festival ao convidá-la. Flashes, corre-corre, gritinhos, aquela coisa toda que o mundo das celebridades conhece bem. Ao ser chamada para a homenagem, a Rainha elegantemente desfilou pelos corredores do Palácio e, a poucos metros do palco, foi gentilmente abordada por um jovem súdito, aparentando pouco mais de 20 anos, que lhe pediu um beijo. Xuxa, ainda elegantemente, deu um leve beijo no rosto do rapaz e seguiu rumo ao palco, sem problema nenhum. Imediatamente, dois enormes seguranças imobilizaram o jovem, que levou uma chave de braço, foi rapidamente imobilizado e truculentamente retirado do local sob os gritos de protestos de alguns poucos que viram a cena.


Gramado precisava disso? De um showzinho particular de truculência e ignorância?


Já no palco, Xuxa recebeu seu troféu das mãos da atriz mirim Ana Júlia, foi ovacionada por parte da plateia, e dirigiu-se ao microfone onde desferiu a primeira bobagem: "Eu sou povo", ela disse. Bom, eu não conheço ninguém do povo que ostente seguranças truculentos para dar chaves de braço nas pessoas. Em seguida, num discurso rancoroso e até agressivo, Xuxa afirmou que nunca imaginou receber uma homenagem como aquela. "Nem eu", pensei, calado. E foi além: disse que jamais poderia pensar que o Festival de Gramado fosse capaz de superar os preconceitos e premiar uma pessoa do povo e suburbana como ela. Ou seja, chamou abertamente o Festival de preconceituoso. Como se, em edições anteriores, o evento só tivesse premiado magnatas e intelectuais.


Gramado precisava disso? De uma ofensa gratuita vinda de um homenageado?


A Rainha terminou sua fala dizendo: "Eu não me arrependo de nada. Eu não tenho vergonha de ser povo, de ser loira e vencedora". Ao que parte da plateia completou: "...E gaúcha!". De onde a loira tirou esta frase? Que
nonsense foi este? Se eu não estivesse presente, não teria acreditado.


Porém, o pior estava por vir: ao descer do palco e voltar para os corredores do Palácio, Xuxa percebeu a presença do jornalista Luiz Carlos Merten, que por sinal estava sentado praticamente ao meu lado. Deu-lhe um amplo sorriso, abraçou o jornalista e sussurrou ao ouvido dele: "Eles tiveram de me engolir". Fiquei pasmo. Eles quem? Os organizadores de Gramado? Os críticos de cinema? O povo? Teria o espírito de Mário Jorge Lobo Zagallo incorporado provisoriamente na Rainha?


E, depois, se ela diz não se arrepender de nada, por que sua filmografia "oficial", publicada pelo Catálogo também oficial do Festival de Gramado, omite seus longas
Fuscão Preto, Gaúcho Negro e Amor Estranho Amor? Os dois primeiros seriam bregas demais para a realeza? E o polêmico Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khoury? Algo contra a nudez da rainha? A rainha está nua?!


Segundo informações do
Jornal de Gramado, além de todas estas barbaridades (para usar um termo bem gaúcho), Xuxa ainda teria cobrado um cachê de R$ 60 mil para aceitar ser homenageada.


Sinceramente, Gramado precisava de tudo isso?


Num momento de lucidez e equilíbrio, o ator José Victor Cassiel, apresentador do evento ao lado de Renata Boldrin, anunciou o próximo filme concorrente e conclamou a todos: "Vamos voltar ao Cinema". Perfeito! Xuxa, com seus filmes de péssima categoria, conteúdo risível, produção tosca e nenhum objetivo cinematográfico, além do
merchandising e da bilheteria, pode representar qualquer coisa. Menos o cinema. Se o Festival de Gramado é um templo do cinema brasileiro, este foi profanado na noite de ontem.

E, Xuxa, rainha do cinema? Só se for a Rainha Má da Branca de Neve.

terça-feira, junho 30, 2009

Michael Jackson

O fenômeno sensacionalista do momento é a morte de Michael Jackson.
Não dava para ficar calada a respeito do circo midiático criado ao redor do cantor. Bastou morrer para que ele deixasse de ser um pedófilo para ocupar novamente seu papel de gênio, Rei do pop.
Não entendo o motivo de as pessoas se surpreenderem com a morte misteriosa daquele que foi a personificação do mistério no mundo pop. Mais do que surpresas, as pessoas estão chocadas.
Chocadas com o que, me pergunto. O que ainda pode provocar estranheza, estupefação, no que tange à figura de Jackson?
Chocada fiquei quando vi um Michael Jackson se dissolver como ser humano; quando vi sua esquizofrenia e infelicidade ganharem corpo, abrindo mão daquilo que mais nos representa: a identidade.
Michael Jackson não é o primeiro e está longe de ser o último na lista de celebridades que desaparecem de maneira trágica e triste.
A dependência química, a depressão, a falta de limites, aliadas a uma história de vida miserável, já levaram muitas pessoas do cenário musical: Cássia Eller, Renato Russo, Elis Regina, Janis Joplin, Billie Holyday, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones, Kurt Cobain, Michael Hutchence, Elvis Presley e por aí vai.
O que diferencia Michael Jackson da pequena lista acima é o fato de ter sido o único (se bem me lembro) que – além de causar mal a si mesmo pelo uso de drogas – mutilou suas feições.
Nem vou me prolongar, neste post, discorrendo sobre o talento inconteste de MJ. Na minha opinião, somente dois nomes citados acima revolucionaram a música dentro de seus estilos.
Elvis Presley e M. Jackson. As alcunhas de "Rei do rock" e "Rei do pop", respectivamente, fazem jus aos artistas. Ambos fizeram mais do que revolucionar o rock e o pop. Eles criaram estilos únicos. Elvis deixou o legado do macacão espalhafatoso e do requebrado hormonal de sua pélvis; Michael abusou de coreografias ousadas e das luvas bordadas com pedras preciosas. Independentemente do gosto do freguês, isso ficará. Essas expressões têm assinatura inconfundível.
O que me deixa cada vez mais desesperançada em relação ao ser humano é, de um lado, a sua fragilidade, a sua debilidade enquanto indivíduo; de outro, sua ferocidade enquanto sociedade. Podemos ser fator de transformação, mas escolhemos ser letais, hobbesianos.
Além da baixíssima autoestima, de uma história pessoal de abusos, Michael Jackson foi vítima de preconceito racial. Ele acreditou, como poucos, numa teoria do branqueamento e não mediu esforços para ser aceito.
Aqui no Brasil, a teoria foi estudada por Sérgio Buarque de Holanda; foi tema de livros, como os de Lima Barreto (O mulato, Clara dos Anjos), e ainda hoje é estudada nos meios acadêmicos.
Skidimore em Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro, afirma que embora o campo intelectual brasileiro, do final do XIX e início do XX, se inspirasse nas teorias racistas européia e norteamericana, não podia negar o alto grau de miscigenação do povo brasileiro e nem pregar uma segregação institucionalizada como fizeram os EUA. “Ao contrário dos EUA, em vez de duas castas (branca e não branca), havia uma terceira casta social bem reconhecida: o mulato. Quanto mais clara a tonalidade da pele, maior sua aceitação na ascensão social.
Daniel Bar-Tal, um dos pioneiros na análise da infra-humanização dos grupos minoritários, afirma:

“Dehumanization involves categorizing a group as inhuman either by using categories of subhuman creatures such as inferior races and animals, or by using categories of negatively valued superhuman creatures such demons, monsters, and satans. Trait characterization is done by using traits that are evaluated as extremely negative and unacceptable to a given society”.

Michael Jackson mais do que um fenômeno de mídia, merece estudo antropológico, sociológico e psicológico. Pode ser um rico objeto de estudo. Mas prefiro pensar que alguém como ele merece também atenção dos nossos olhos humanos, ou do que restou de humanidade em nós, para enxergarmos quão poderosos são nosso julgamento, nossas palavras e a nossa falta de afeto.

Já disse isso uma vez aqui mesmo. Repito: a tolerância não me convém. Não quero tolerar nem ser tolerada. Quero ser digna de respeito.

sábado, maio 16, 2009

Quote (2)

Tudo entra na cabeça em tumulto e sai em silêncio.

Chico Buarque

quarta-feira, maio 13, 2009

Tietagem

Sim, há um bocadinho de tietagem, mas há mais, muito mais de merecimento.
Fiquei emocionadíssima ao ler a notícia que posto logo abaixo. Emocionada por ver a literatura de Salim Miguel sendo reconhecida e mais emocionada ainda porque esse reconhecimento será celebrado em vida pelo autor.
Há um componente pessoal, é claro, caso contrário não seria tietagem.
Estou feliz!
Vocês sabem como é a sensação de ficar feliz por empréstimo? Sabe quando o sorriso brota no rosto espontaneamente, melhor, involuntariamente, pelo simples motivo de você imaginar a cara de satisfação, de orgulho de alguém que você preza muito?
Estou aqui escrevendo e não consigo tirar do rosto esse sorriso prazenteiro, porque essa notícia teve esse poder: deixou em mim aquela sensação de felicidade clandestina que a Clarice descreveu de modo tão preciso no seu conto.
Tenho a cara de boba porque sou capaz de ver essa mesma expressão no rosto de um amigo querido (e que há muito não vejo) ao saber da novidade. E o melhor de tudo isso é que ele não teve que esperar para ler nos jornais, ouviu tudo isso do próprio pai, do próprio Salim Miguel.


A Academia Brasileira de Letras (ABL) concedeu ontem ao escritor, jornalista e roteirista cinematográfico catarinense Salim Miguel o Prêmio Machado de Assis 2009, láurea de maior destaque da ABL. A entrega do prêmio, no valor de R$ 100 mil, acontecerá no dia 23 de julho. Miguel tem mais de trinta livros publicados e é reconhecido com grande ficcionistas, contista, cronista e ensaísta. E entre os seus romances, destacam-se NUR na Escuridão e A Voz submersa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, abril 30, 2009

Lionel Brard
Lionel Brard

De tanto andar
Em corredores estreitos
Foi que me perdi
Sem direção

A casa estranha,
De insana arquitetura,
Não resistiu ao vazio,
À erosão.

As paredes rachadas
Internamente caiadas
Ainda deixam vazar
A solidão.


(Luciana Melo - 21/04/04)

terça-feira, abril 14, 2009

Bloody Hell

I have no fucking idea why I still watch Lost.
Don't say Josh Holloway, please. It's not a rational answer!

quarta-feira, abril 08, 2009

segunda-feira, março 23, 2009

Cópia2
Natal & Copos, Carlos Loff Fonseca

Havia um cavalo preso em seu peito. Selvagem e indócil. E cavalos selvagens não combinam com o confinamento, com os espaços restritos e a opressão. Sua agressividade não era à toa; bastava uma chance, a menor delas, para coicear tudo que se aproximava e parecia subtrair o pouco que já tinha.
Era um cristal. Estava a um triz de se quebrar além de tudo que estava ao seu redor. Não raramente associavam a fragilidade ao cristal. Onde veem fragilidade, eu vejo pureza. Deve ser esta a razão de não haver pureza nos dias de hoje. Tudo que é puro não dura, desmancha, estilhaça: a pureza é frágil e não suporta tantos muros.

quarta-feira, março 18, 2009

Tivestes já a sensação de que a vida, o destino, seja lá que merda de nome tenha, te testa gratuitamente? Não há aprendizado, lição de moral. Apenas um exercício de paciência infundado, frustrante ou alguém - um sádico invisível, talvez - que acordou de mau humor e com um desejo incontido de te sacanear e ferrar com o teu dia.

sábado, março 14, 2009

Obras completas de D. Hélder Câmara

Sai neste mês de março a publicação de Circulares conciliares e Circulares interconciliares. Cartas, discursos e poemas-meditação escritos por D. Hélder Câmara entre os anos de 1962 e 1982.
Na contramão de tudo que temos ouvido da e sobre a instituição Igreja – retorno ao pensamento secular, excomunhões, insistência na ideia do pecado como punição, entre outras coisas –, D. Helder é o que há de bom, revolucionário, avant les lettres, é a expressão da fé e da doutrina cristã.
Homem tímido e que agia nos bastidores, D. Hélder contribuiu para o estabelecimento de uma Igreja engajada na causa dos pobres ou como ele mesmo dizia “mais servidora e pobre e menos senhora e rica”.
Dono de uma consciência profunda, D. Helder sempre teve um posicionamento claro e extremamente comprometido com o ser humano.

A postura de Dom Helder ficara clara desde o seu discurso de posse – uma histórica peça de coragem num momento em que mandatos eram cassados e as cadeias viviam abarrotadas de presos políticos.
“Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa-fé ou de má-fé (...). Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.”

Falou também do seu tema preferido: “(...) cuidaremos dos pobres, velando, sobretudo, pela pobreza envergonhada e tentando evitar que da pobreza se resvale para a miséria”.

É disso que as religiões precisam: de gente e de fé. Essas são as alavancas que movem o mundo dentro de uma mística onde pessoas professam sua relação com Deus. Teorias da prosperidade, dogmas infundados, relação de promiscuidade com o poder político e econômico, charlatanismo. Tudo isso empobrece o discurso teológico, esvazia templos e afasta o homem da sua porção divina, não religa nada, ao contrário, aparta o homem (matéria) da sua alma, estabelece relações céticas em relação à essência do ser humano.

terça-feira, março 10, 2009

Os Bestializados

O que escrevo nada tem a ver com o ensaio do historiador José Murilo de Carvalho. Antes fosse. Escrevo porque já não suporto mais guardar tanta dor e o esforço de gritar para dentro. Nestes dias, tudo pra mim lembra a tela de Munch. Aquele ser desfigurado, horrorizado, agonizante que, não podendo mais reter tanta dor em seu ser, grita.
Sempre imaginei quais demônios o atormentavam naquele momento em que os expulsou das entranhas ao soltar a voz. Qual dor ficou tão insustentável a ponto de se transformar em loucura?
A violência é hoje o meu maior demônio. Aquele que quero expelir de forma incisiva, aquele que não aguento mais esconder ou fingir que não existe. A violência extrapola os muros do que é considerado real – os jornais, as revistas, o noticiário de TV – e da própria historiografia. A violência está identificada na música, nas expressões artísticas e naquilo que é considerado fictício: cinema e literatura. Guernica, holocaustos, Meninos não choram, Milk, 174, Proibido Proibir, Cidade de Deus... a lista é extensa.
O que leva um pai, tio, padrasto – pessoas com o dever de proteger e cuidar – cometer tantas atrocidades contra suas crianças?
Já não sei mais diferenciar o que é doença e o que é simplesmente maldade. Porque se supõe que a pedofilia, por ser uma doença, representaria casos isolados que se mantem mais ou menos constantes nas estatísticas. Mas não é o que acontece. Muito pelo contrário, o quadro é alarmante. Crescem os casos de abuso e violência. Vivemos uma quimera de que a era digital, tecnológica, o conhecimento ao alcance de mão, para ser mais exato, em um simples clique, aprimorasse o intelecto e a consciência. Falácia! Estamos a cada dia mais bestializados.
Uma criança de 9 anos acabou de passar por um duplo trauma. Não bastasse ser violentada desde os 6 anos de idade, essa menina também foi submetida a um aborto. Que tipo de criatura é essa que além de destruir um corpo tão frágil ainda destrói a doçura e o sonho de uma criança? Ainda restou alguma esperança nela? Qual a noção de proteção que ela tem? Que tipo das relações ela construirá? Terá sobrado algum espaço para o afeto e a confiança?
Não bastasse o absurdo de tudo, ainda vem a Igreja com uma conversa sem pé nem cabeça sobre excomunhão!
Sou contra o aborto, mas sou ainda mais contra a estupidez. Que tipo de moral norteia uma conduta em que se excomunga a vítima e o algoz sai ileso?!
Mulheres, mães, acordem, por favor! Pesa sobre nós a responsabilidade de educar os filhos. Que tipo de pessoas estamos formando e lançando no mundo? Sempre me pareceu um disparate, um paradoxo, termos na sociedade contemporânea pensamentos machistas ainda tão profundamente arraigados. Qual é a parcela de contribuição do universo feminino em perpetuar tanta burrice e preconceitos? O que estamos ensinando aos nossos filhos? Ainda dizemos aos meninos que existem dois tipos de mulheres, as que servem para casar e as que não servem? Ainda usamos o velho argumento para as meninas que os irmãos podem fazer isso e aquilo pelo simples fato de serem homens? Que o homem promíscuo é um garanhão e a mulher é puta? Que eles podem dispor do nosso sexo como se fossem deles? No dia 8 de março, as mulheres bradam por liberdade e igualdade nas suas mais diferentes expressões, mas será que em casa ensinam isso aos seus filhos? Será que ainda estimulam os garotos a iniciarem cedo sua vida sexual enquanto pregam a virgindade das meninas como se sexo não fosse responsabilidade de duas pessoas?
Os homens são educados por mulheres. As mesmas mulheres que sofreram anos por causa da opressão e de tantos espartilhos a lhe comprimirem o corpo e alma. Não seriam por isso mesmo mais sensíveis para perceberem o menor sinal de asfixia? Onde estão essas mães que não enxergam seus filhos, que não percebem o terror nos seus olhos, os hematomas no corpo, a apatia no gesto? Foram três anos de abuso e para onde estavam voltados os olhos dessa mulher?
Não estou aqui apontando culpados. Não faz sentido. Mas faz sentido refletir nossos padrões de comportamento e valores. Estamos deixando um legado de infelicidade e destroços. Estamos criando gerações e gerações de farrapos humanos, de deficientes emocionais.
Já é difícil ter que conviver com a violência institucionalizada, aquela que vem da rua, da miséria, do tráfico, mas ninguém deve ser obrigado a viver a violência da casa, do espaço das relações privadas e dos afetos.
Não tenho muito o que celebrar nesse 8 de março. Pra dizer a verdade, por vezes, tenho vergonha de dizer que sou ser humano. Os irracionais somos nós.

sábado, janeiro 17, 2009

V

Teatro

Há um não-sei-quê amadorístico nos gestos e intenções do blefador. Algo oculto em seus olhos trai a encenação. Nem todos os ensaios do mundo são capazes de sanar seu deslize, sua insegurança, o medo de ser delatado pelas palavras mal colocadas, por sua impostura.
Quando ele fala, seus ombros estão sempre curvos, os olhos miram o chão, o sorriso é quase uma agonia. Não se permite tocar e ser tocado, esquiva-se ao menor sinal de contato como se seu corpo recebesse uma descarga elétrica mortal.
Cansei dessa peça. Já conheço bem as marcas, as deixas, o roteiro. Então, quando o refletor muda de foco e a platéia fica na escuridão, eu me retiro do recinto. Mas devo confessar que o faço com pesar, com alguma dor por vê-lo acreditando verdadeiramente na sua mentira.
Reconheço um jogador só de olhar. Eu também já tive meus vícios.

Feliz 2009

2009 chegou, finalmente.
Aos amigos e transeuntes desapercebidos que circulam por este blogue, aqui vai mais uma daquelas promessas de começo de ano: espero estar mais presente por essas vagas cibernéticas.
2008 foi um ano que não deixará nenhuma saudade. Parei muita coisa para estudar para concursos e parece que deu certo.
Li bastante, mas nada daquilo que de fato me alimenta e deixa a alma farta, satisfeita... mas como dizem por aí, não se pode ter tudo de uma vez só.
Até mais ler