sábado, janeiro 29, 2005


A noite é seda escura e lisa que retém o perfume de quem por ela cruza.

Em alguns dias é moça apressada e medrosa, exalando odor de borboleta perdida em jardim alheio; noutros é bêbado trôpego cheirando às pegadas infinitas do mundo; em outros ainda o cheiro da noite se confunde ao dos namorados – jasmim adocicado.

E assim sucedem-se os tempos, onde cada um que passa beija seus cabelos negros num cortejo rítmico, cíclico... tentacular.
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terça-feira, janeiro 25, 2005


Sentou-se no banco da praça numa noite clara, de lua alta e muito azul.

Daquele lugar podia ver em primeiro plano, os edifícios, pessoas, automóveis... tudo se confundia no grande non sense que era sua vida.

No seu silêncio, chorou, por dentro, trovoadas de tempo, onde os sonhos irrealizados continuavam intocáveis.

Com a vista baça, levantou-se e foi embora decidida a fazer diferente.

Mais tarde, uma outra pessoa ocupou o seu lugar banco e, apesar de tanta estrela no céu, sentiu o cheiro de chuva no ar.
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quarta-feira, janeiro 19, 2005

Minha Lia, minha companheira de ofício, minha irmã de alma, não esqueci do teu aniversário.
Eu poderia escrever muitas coisas, mas jamais seria precisa como ela.
Aproveitei e trouxe novas flores para o teu jardim ;)

QUERO ESCREVER O BORRÃO VERMELHO DE SANGUE

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Noite de sexta. Ele prepara o banho enquanto ela o espera, na sala.

Distraiu-se, ouvindo os barulhos e a movimentação que ele fazia. Fechou os olhos. Aspirou fundo o cheiro bom de sabonete que perfumava a casa. Cheiro de coisas frescas, prazerosas, transparentes...
Ele chegou devagar e beijou seu sorriso, despertando-a do mundo das sensações. Entregou-lhe pincel, cadinho, água morna e creme de barbear. Pediu que fizesse espuma abundante e saiu.
Quando voltou do quarto, viu em suas mãos o 'milkshake' que ela lhe preparara, então, puxou o banquinho, sentou-se bem perto dela e entregou-lhe o barbeador.
Brincaram com a espuma, deram beijos lambuzados, sujaram o tapete da sala e decidiram, mudamente, não sair mais para jantar. Afinal, qual cardápio ofereceria essas miudezas recheadas de felicidade?
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terça-feira, janeiro 11, 2005

Rendeiro

Estou irremediavelmente presa na trama que enredas habilmente com tuas mãos.
Fazes um bordado que é pura sedução. E eu gosto de me deixar seduzir a cada ponto em que teces manhas e manhãs nas quais me esparramo.
Brincas com os dedos, meus e teus, como se fosse uma espécie de jogo infantil ou quem sabe um prestidigitador que distrai e encanta até o momento de mostrar sua mágica, momento em que espero paciente e hipnotizada.
Fias, no meu cabelo, pequenas espirais que se perdem no teu colo, ombro e travesseiro. Elas dão a perfeita dimensão do amor infinito que nos circunda.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Em 2005...

Ano Novo.
Desejo que a gente exercite a literatura, a crítica, as relações aqui no Glossolalias durante os próximos 365 dias.
Abraços.