Apenas um trechinho da entrevista que a Revista Continente fez com Luiz Ruffato
Você defende que a literatura é uma missão. Pode explicar melhor em que consiste essa missão e de onde vem sua outorga?
Você defende que a literatura é uma missão. Pode explicar melhor em que consiste essa missão e de onde vem sua outorga?
Acho que a Arte tem que transcender a realidade, tem que ser testemunha de uma época, de uma sociedade. Eu nasci no Brasil, falo português-brasileiro, venho de uma família de proletários... Ora, não dá para renunciar às minhas origens. A minha literatura é programática. Antes de começar a escrever, em 1996, eu me perguntei se valia a pena, porque não tenho vaidades mesquinhas de escrever para aparecer em jornais e revistas, ser conhecido, essas coisas. Tanto que minha literatura é totalmente dependente das minhas experiências pessoais. A literatura brasileira, com honrosas e raras exceções, não tem uma tradição de representar a classe média baixa (não digo o marginal, pois esse está bem retratado). Então, resolvi encarar esse problema. Me dispus a dar voz e rosto e vida àquelas pessoas todas que participaram da minha vida e que se afundaram no mais profundo anonimato, aquele de que fala Manuel Bandeira, dos que sequer possuem um nome inscrito na lápide. É um compromisso político meu... Quem me outorgou essa missão? Penso que da mesma maneira que nas tribos mais distantes da nossa história, onde cada um tinha uma função, havia também o contador de histórias, que funcionava como uma memória viva das tradições do povo. Não tenho talento para nada a não ser escrever. Então, a mim foi dada a missão de contar a História do Brasil do ponto de vista de quem nunca participou da festa.