segunda-feira, março 31, 2008

Espasmos # 3

E quanto mais gritava ao vento, menos era ouvida. A voz era dissipada pela velocidade do ar... sentia-me órfã, abandonada, lançada ao redemoinho, ao pó... comigo, uma folha de papel era arremessada ao nada; esperei os movimentos, decorei sua rotação e no momento exato do rodopio, agarrei-a com as mãos.

quinta-feira, março 27, 2008

Torcendo para que chegue por aqui

Começa hoje, no Clube Monte Líbano em São Paulo, a comemoração dos 125 anos do nascimento do escritor, pintor e filósofo libanês Khalil Gibran (1883-1931) com o lançamento de medalha, mostra e debates sobre sua obra.

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www.starnews2001.com.br/kahlil/museu_gibran.htm


A presidente da Associação Cultural Brasil-Líbano, Lody Brais, conseguiu do Museu Gibran filmes sobre o artista que começam a ser exibidos no sábado. Na sexta, será inaugurada exposição com livros, pinturas, cartas e documentos pessoais no hall do teatro do clube. E no domingo será instalado o busto do escritor na praça que fica entre as Avenidas República do Líbano e Afonso Brás.
Gibran teve sua obra marcada por grande misticismo e idealismo. Seu livro mais famoso, O Profeta, fala de um visionário que se prepara para uma grande viagem que talvez não tenha volta, o que deixa seus discípulos desolados, contudo, antes de partir, orienta-os acerca do amor, da amizade e da liberdade. Gibran tentou unir crenças e filosofias aparentemente inconciliáveis, uma da vez que o livro acentuadamente romântico foi influenciado por fontes de aparente grande contraste: Nietzsche, a Bíblia e William Blake.
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Gibran emigrou para os Estados Unidos e começou a escrever poemas e meditações para O Emigrante (Al-Muhajer), jornal árabe publicado em Boston. Ele também desenha e pinta e na exposição de seus primeiros trabalhos, atrai o interesse de Mary Haskell, sua mecenas. Mary custeia os estudos de Gibran em Paris. Lá, ele conhece Rodin e torna-se aluno do famoso artista. Uma de suas telas é escolhida para a Exposição de Belas-Artes de 1910.

Amai-vos...

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.

sábado, março 08, 2008

Espasmos #2

- É que na maioria das vezes sou mesmo corredeira volumosa...
- Nunca escutas? Quantas vezes precisarei desembocar em ti para entenderes a violência dos sentimentos gerados pela força das minhas águas?
- Suplico ao vento que pare de soprar: estou exausta de tanta arrebentação.

Espasmos #1

Eu sempre me liquefaço em dias de chuva – nunca te disse? Pois é. Dissolvo-me. Diluo minha matéria bruta para aliviar meu peso, meus passos, pois sendo líquido posso vazar pelos poros transformando-me em corredeira ou simplesmente evaporar sem deixar vestígios.

Filosofia Barata (2)

O ser moderno.

- Tudo começou por causa daquele bendito curso de artes plásticas que você me recomendou.
- Então a culpa é minha?
- Em parte – disse sorrindo com olhos perspicazes.
- Mas eu avisei pra você ficar esperta. Ele é ou não é envolvente?
- No começo eu achei que sim. Agora não tenho tanta certeza. No fundo, ele é mais um cretino posando de moderno.
- Espera um pouco, Marina. Ele não é cretino.
- Qual o nome que você dá para alguém que usa a Arte como desculpa para perpetuar um comportamento machista pra lá de secular?
- Ele é desencanado.
- Ele é filho da puta. Se são sinônimos para você, tudo bem.
- Mas me conta, o que aconteceu?
- Não aconteceu. E pelo ritmo acelerado do meu desinteresse, não vai acontecer.
Suspirou fundo e deu início ao seu monólogo:
“Enquanto desenhávamos, ele passeava pela sala, observava nossos traços e nossas expressões. Ao final da aula, pediu para que eu ficasse. Precisava conversar comigo. Fiquei. Ele deu mil dicas e sugestões, indicou livros e pediu meu telefone. Ligou. Falou da mulher que sou: interessante, independente, sedutora... queria me ver, me tocar, falou um monte de sacanagem. Do outro lado eu me divertia com a fantasia que criara a meu respeito. Foi direto e sem cerimônias. Queria prazer sem compromisso. Ri ainda mais. Achei a frase digna dos anúncios de jornais da sessão de acompanhantes: “fulano realiza todos os seus desejos, prazer garantido sem compromissos.” Se ele se ouvisse de verdade, o cara moderno e liberal que acreditava ser daria lugar a um troglodita total. “Me deixa te ver”, ele insistia. Eu disse que não podia e realmente não podia mesmo, mas dei corda, no fim de semana nos encontraríamos, sairíamos para tomar um café. “Vamos deixar rolar, ver se a química funciona.” Foi então que a conversa mudou de rumo. Ele: eu te disse que tenho namorada? Eu: não, não perguntei. Ele: não acho fidelidade uma coisa tão importante. Eu: acho lealdade mais importante do que fidelidade. Ele: era importante que você soubesse disso. Eu: é importante que VOCÊ saiba disso. Ele: como? Eu: estou solteira, livre, faço o que quero e quando quero, portanto, não devo satisfações a ninguém. Ele: entendo, digo isso porque não posso ser visto, o encontro tem que ser num lugar discreto. Eu: parece que sua namorada não tem a mesma opinião sobre a fidelidade. (silêncio). Eu novamente: vou ser absolutamente sincera. Primeiro, eu não tenho motivos para me esconder; segundo, mesmo que seja só prazer sem compromisso (e eu não vejo nenhum problema nisso), há que se ter delicadeza, afinal, uma boa dose de cortejo não mata ninguém. Existem pessoas (e isso não é nenhuma novidade), quando bem pagas, que tiram a roupa, transam e vão embora. Sem nenhuma complicação e o melhor, sem compromisso. Ele: não quis te ofender. Eu: não ofendeu. Sacanagem é algo fácil de fazer, principalmente sem compromisso, mas feita assim tão secamente não tem graça, não deixa lembrança, não vira ficção, não marca, é mera contabilidade. Ainda que um encontro seja apenas sexo, é preciso ter cheiro, textura, química, conquista, precisa instigar, desafiar, criar clima, ter vontade de falar difícil, impressionar, ler Rimbaud no original... ele: isso é romance, não sexo.”
- Mas que cretino!
- Como você mudou de opinião! E rápido!