sexta-feira, abril 20, 2007

Prêmio Vivaleitura 2007


Prêmio Vivaleitura 2007 é lançado em Brasília

Maior premiação individual para fomento à leitura no Brasil tem o objetivo de estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências relacionadas ao tema

O Prêmio Vivaleitura 2007, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Cultura (MinC) e Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), será lançado dia 23 de abril, em Brasília, na sede da OEI. O prêmio, que faz parte do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), tem o objetivo de estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências relacionadas à leitura. A ação tem execução e patrocínio da Fundação Santillana e apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Na sua primeira edição, em 2006, o Prêmio Vivaleitura recebeu 3.031 inscrições de todo o Brasil. Os trabalhos vieram de todos os estados brasileiros e os vencedores foram o projeto Jegue-Livro, implementado em Alto Alegre do Pindaré, no interior do Maranhão; o projeto Cordel: Rimas que Encantam, desenvolvido em São Gonçalo do Amarante, interior do Ceará; e Liberdade pela Escrita, programa que leva literatura a um presídio feminino de Porto Alegre.
O prêmio nasceu da intenção de dar continuidade à mobilização pró-leitura empreendida durante o Ano Ibero-americano da Leitura (2005), o “Vivaleitura”. A iniciativa tem duração inicial prevista para dez anos (2006-2016) e é a maior premiação individual para fomento à leitura no Brasil.
Dividido em três categorias de abrangência nacional, poderão concorrer ao prêmio instituições, órgãos e pessoas físicas. Os trabalhos podem ser inscritos em três categorias: (1) bibliotecas públicas, privadas e comunitárias; (2) escolas públicas e privadas; e (3) sociedade: empresas, ONGs, pessoas físicas, universidades e instituições sociais. Na categoria “Sociedade”, uma menção honrosa será atribuída a projetos de empresas. Em cada categoria, os vencedores receberão um prêmio de R$ 25 mil.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pela Internet (http://www.premiovivaleitura.org.br) ou via postal (veja serviço abaixo). O prazo de inscrição vai de 23 de abril a 9 de julho de 2006. Informações podem ser obtidas pelo telefone 0800-7700987. As ligações são gratuitas.
Para a fase final da premiação, serão selecionados cinco projetos de cada categoria, de acordo com critérios como originalidade, dinamismo da ação na construção da cidadania, recursos utilizados, pertinência da ação desenvolvida com a comunidade, abrangência, duração e resultados alcançados, entre outros. A fase final do julgamento será realizada por uma comissão avaliadora composta por profissionais da área de leitura e sociedade. Os finalistas serão anunciados em setembro e a premiação está prevista para acontecer no dia 30 de outubro, em Brasília (DF).
Notícia publicada na Revista EntreLivros.

Sala de Leitura (2)


Por Cláudio Portella*

Dois novos títulos da Coleção Ponte Velha foram lançados, ambos com organização e prólogo do escritor Floriano Martins: Armas Brancas e Outros Poemas, de Armando Silva Carvalho e Olhares Perdidos, de Nicolau Saião.
É possível perguntar: por que o selecionador, o escritor Floriano Martins, dentre os livros de poesia de Armando Silva Carvalho, selecionou na íntegra o livro Armas Brancas (de 1977)? Penso que pela unidade que o livro possui. Unidade que vai além do conceitual e/ou estético. O livro, em si, é um poema. Há uma voz, um guia que cobra os fatos, que interroga, que pontua e descarna a história (a ditadura de Salazar – de 1926 a 1974) do seu país, refletindo-a no corpo do leitor. A escolha de Floriano Martins foi primorosa.
No prólogo do livro, Floriano Martins (poeta-crítico incansável, que parece estar sempre à procura da melhor performance poética) abre o diálogo com os versos de um poema de Armando Silva Carvalho: “Honra os destroços. Cobre-te com eles”. É provável que Armando tenha bebido na mesma fonte de Eliot, que diz num poema famoso: “Esses fragmentos eu os escorei contra minhas ruínas”.
Floriano ressalta a ironia, o sarcasmo, a proximidade da prosa (visível nos poemas de Lisboas, 2000) e a coletividade na poesia de Armando Silva Carvalho. A melancolia também é citada. Melancolia presente em O Comércio dos Nervos (de 1968, seu segundo livro de poesia), nos poemas: “Outro”, no belo “Carro parado com o motor a trabalhar”, e “O chão”. Não uma simples e pura melancolia. Mas infectada de nostalgia e acidez. Compostos que aparecem nos livros seguintes.
O que ficou faltando ser mencionado no texto de introdução do livro foi o erotismo (por mais estéril que se apresente), as imagens sexuais que a poética de Armando Carvalho também carrega. Contei mais de 20 poemas em que o sexo está presente. O sexo, no livro aqui presente, é quase sempre um desejo abafado no outro. É o que tenho a dizer sobre essas facas lusitanas.
Imagino a desenvoltura com que Floriano Martins organizou o livro de Nicolau Saião. Em verdade, a edição brasileira de Olhares Perdidos – a anterior, acrescida do artigo “Os” – é de 2000, publicada pela Universitária Editora de Lisboa. Digo desenvoltura, porque é conhecida a posição surrealista do organizador do livro; posição assentada (ou em pé) do autor do mesmo.
Mas o que Olhares Perdidos traz do surrealismo francês é tão somente o reconhecimento histórico. Na abertura da entrevista (o prólogo é uma entrevista que Floriano fez com o poeta), que antecede o livro, lemos: “Nicolau Saião (1946) integra o 2º movimento surrealista português, cuja atuação se situa nos anos 60 e configura um momento outro dentro de um painel de filiações e assimilações do movimento francês nas décadas anteriores. Trata-se de momento em que, no dizer de António Luís Moita, já se encontrava “digerida e superada (...) a bela utopia da escrita automática a que, duas décadas antes, outros poetas haviam metido mãos inovadoras”.
E o que realmente encontramos nos poemas é uma escrita elaborada, primando à revisão. O livro me parece mais figurativo do que propriamente surrealista. O figurativo é notório logo nos primeiros poemas do livro: “A Janela”, “Árvore” (aspecto interessante: o poeta parece ter um apego especial pelas árvores, pois o tema é recorrente ao longo do livro), “Efemeridade”, “Voar” e “Cidade”. O “surrealismo contemporâneo” não seria mais um jogo de dados, mas de xadrez.
Nicolau Saião também é artista plástico, a ilustração da capa e interiores do livro é dele. O que dizer dos desenhos de Saião? Vejo-os em contraponto com os poemas não querendo ilustrá-los, mas desmontá-los, destituí-los de sua porção literária.
Se é mencionada a proximidade da prosa na poética de Armando Silva Carvalho. Em Nicolau Saião essa proximidade é muito mais forte, mais presente. Rotular alguns textos, em Olhares Perdidos, como poemas, é delicado: “Erótica Lexicon 2.(b)” é um conto com diálogo entre Jolce e Belinda, “Fala de sua filha a seu pai José Régio” também é um conto onde a filha – unilateralmente – fala ao pai, “Os enigmas do quarto fechado e da fotografia artística” é um ensaio sobre literatura policial, “Fala do pastor no dia seguinte” é um conto com diálogo entre o pastor e um zumbi, e “África” que é uma aventura surrealista na selva, que termina com alguém sacando um “símbolo” do surrealismo, uma automática de nove tiros.
O livro traz 5 poemas e seu título é constituído da palavra Poema, sendo 3 com o mesmo título, formado unicamente da palavra Poema. O poeta parece querer transformar o poema em um ser-humano comum, batizando-lhe com um substantivo comum. Com o livro, Nicolau Saião, nos mostra que é possível fazer uma poesia surrealista sem dogmas, sem fé. Amém.
Cláudio Portella é escritor e autor de Bingo!

terça-feira, abril 17, 2007

As matriarcas (8)

Fui esperar Tiziu em frente da Escola Municipal. Pelo pouco que já conheço do moleque, cheguei com dez minutos de antecedência para não perdê-lo de vista. Levado como era, imaginei que ao primeiro toque do alarme, ele sairia voando pelo portão, doido para deixar a “masmorra” para trás. Errei. Ele nem esperou o alarme soar, cinco minutos antes do horário, Tiziu saiu pelo portão com o passo apressadinho como se não quisesse dar oportunidade de ser agarrado pelo bedel do colégio. Ele enxergou-me de longe e veio saltitando em minha direção como os olhos arregalados:
- D. Olívia!
- Tiziu!
- A professora já tinha terminado, viu? Não fugi da aula, não senhora.
- Eu não disse absolutamente nada, Tiziu.
- Mas antes que a senhora diga...
- Não estou aqui para vigiar você. Fique calmo. Vim porque combinamos um passeio de bicicleta para mais tarde, mas antes preciso ir a um lugar.
- Que lugar é esse?
- Uma casa que fica no Largo da Esperança.
- No Largo da Esperança? De quem é a casa?
- Foi da minha família: bisavós, avós, minha mãe e agora é minha. Mas ela está fechada há alguns bons anos.
- Não gosto de ir por aquelas bandas, D. Olívia.
- E por quê?
- Porque tem muita alma por lá.
- Como é, menino? Que história é essa?
- Falam que lá tem uma casa assombrada que pertenceu à D. Maria da Anunciação. Em algumas noites, uma dona doida anda pelas ruas do largo, vestida de Maria Madalena...

Minha visão ficou turva e a voz de Tiziu foi sumindo, sumindo até que não ouvi mais nada.