quinta-feira, maio 09, 2013

Gente hipócrita!

Eu disse para mim mesma: não vale a pena, fica quieta, se finge de morta. Mas eu não consigo, não é da minha essência ver, ler, presenciar o grotesco e me calar.

Eu realmente fico pasma com a capacidade de algumas pessoas se horrorizarem com o mundo externo, mas não conseguir fazer a reflexão do que acontece entre paredes.

Já vou me adiantando: não, não estou a favor de criminosos, não estou insensível às misérias do mundo, às atrocidades cotidianas que são expostas como obras de artes nos jornais, televisões, internet...

Mas eu acho muito, muito estranho constatar que falta crítica, que falta coragem de encarar a própria imagem no espelho e se reconhecer parte do grande circo dos horrores, que pensamos estar lá fora, longe de nós.

Gente que se horroriza com a covardia de um pai que usa o filho como escudo, que enche a boca pra falar da violência do mundo, mas é incapaz de ver o quanto reproduz dessa violência com aqueles a quem deveria amar.

Qual o espanto ou o choque diante de uma matéria em que mostra um filho usado como escudo? Ou outra que fala de um atropelador que seguiu apesar de deixar um outro ser humano agonizando de dor na rua e depois de tudo jogar um braço no lixo para se livrar de qualquer vestígio de culpa? De outra, ainda, que explicita o extermínio de outro ser humano porque ele é negro, gay, mulher, nordestino, fala o que pensa, é o que é, sei lá, gosta de verde com bolinha roxo-batata. Vai saber!

Há séculos mulheres, crianças e idosos são violentados.
As estatísticas mostram que os maiores abusadores de crianças são aqueles que deveriam amá-las, pessoas do âmbito do lar, do privado.

Conheço, convivi com defensores de grandes ideiais, que abominam a violência, que se acham paladinos da democracia, que se denominam príncipes, tal qual Álvaro de Campos canta em seu Poema em linha reta, mas não hesitam em assediar moralmente, em violentar emocionalmente, em ser covarde no lar, em defender o direito de existir um partido nazista, porque, é claro, isso é parte da democracia; gente que se diverte com piadas machistas, que agride, que reificam a violência; gente que se acha cool, moderno, liberal, mas é preconceituoso, homofóbico, misógino; gente que tem um discurso preparado, mas não vê problema algum em humilhar a mulher, em tratá-la como seu brinquedinho ou se divertir com comentários agressivos, mas naturalizados, do tipo: mulher feia tem que dar graças a Deus por ser estuprada. E o máximo que conseguem dizer é: isso é um comentário babaca, infeliz, mas não contribui em nada pra perpetuar a violência de gênero. 

Para. Eu quero descer. Não aguento os defensores de ideiais quando eles estão fora do alcance dos olhos, da mão que fere, da língua que humilha, da omissão que dá passe livre para que tudo fique exatamente como está.