quinta-feira, setembro 29, 2005

Confissões

“Tenho a minha vida nas mãos, Abel. Recebe-a.
Mas ouve: o amor, artefato de difícil manejo,
é cheio de botões secretos
e de facas que à mínima imperícia ou distração
saltam voando e lanham a carne”.

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José Sobral Negreiros

Eu amo-o. Isso não altera a ordem do universo. Amo-o. E amá-lo é um ato solitário, independe de sua vontade, do seu querer. Amor – uma seta que flui de mim em sua direção e é da minha natureza fluir, lançar setas.

Ninguém, nada pode impedir o fluxo que jorro abundantemente. Nem mesmo você ou sua ausência são capazes de estancar o sangue, o calor das minhas veias. Pensar que essa mágica poderia ter sido desfeita pela sua partida dói no meu corpo até os ossos, mas se este fosse o seu desejo, eu abriria minhas asas em vôo raso, porque sou pássaro visionário, possuo a força de amar e eu quero do amor tudo: a doçura, os sobressaltos, a febre, o delírio, a calmaria.

Repito. Amo-o. E o amor em nosso tempo parece-me rarefeito, em vias de extinção, uma moeda atribuída de valor de troca. Será que só a palavra AMOR sobreviverá como um registro gráfico ou sonoro ou uma peça de museu? Um objeto de recordação? O que será de tudo, de todos quando finalmente nos arrancarem a força de amar, a alegria de amar, a cólera de amar? Restauremos, então, o amor e através de nós que ele perdure.

Iniciamos novamente o nosso percurso. Deitados lado a lado somos reconduzidos, em silêncio, ao Éden, através das estrelas e do vento. Somos os protagonistas de um paraíso transfigurado porque renascemos caídos, expulsos, logo, responsáveis e cientes da porção humana. Estamos novamente de mãos dadas e a sua figura avança, amplia-se sobre mim, rompendo os limites do corpo, habitando minha carne intemporal. Repousa nos meus rios sua cabeça e sorve o mel das minhas coxas.

Calo minha boca na sua, beijo mansamente seus ombros, nuca, costas. Contraio meu corpo sobre o dele. Ele retesa-se. Mordo sua orelha e sussurro, entre dentes, uma, duas, dez, mil vezes a palavra amor na intenção de resgatar o sentido, o nexo, o som, a música. Meus seios roçam sua pele e fazemos o encaixe que começa pelos poros e atravessa o nosso centro nevrálgico. Sua mão procura minha entrada, não bate à porta, devassa meu interior, demarcando caminhos: não quer perder-se.

Olha-me do umbral da minha passagem secreta que só responde à tua senha. Não quero outras digitais tateando minhas umidades. Reconhece-me tua e descansa tranqüilo na bainha que preparei para ti. Nela só há espaço para a tua espada, forjada pelo fogo sagrado da noite. Tua lava incendeia sem queimar...guardo-a em mim, em mim... em ti, em ti somente o amor completo.


quarta-feira, setembro 28, 2005

Eu tenho essa mania de ser par.
O mundo não é par, as pessoas não o são, então, por que engendro no meu centro esse desejo?
Eu sou uma pergunta que nunca encontra resposta satisfatória. O silêncio não é bom companheiro nessas horas, ele estimula o interrogatório palavroso e eu... eu não ouso saber.
Eu tenho medo de descobrir que por baixo de tudo há o Nada, transparente e esmagador.
Talvez o Nada seja o elo arrebentado da corrente, ao partir-se, nos condenou à solidão.
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quarta-feira, setembro 21, 2005

O que ela não me pede chorando que eu não faço sorrindo?
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sexta-feira, setembro 16, 2005

Minha A.,


Eu também já tive profundas raízes, esqueces? Algumas ainda estão lá e não duvido que sempre estarão; outras eu tive que arrancar, lançar ao fogo, caso contrário, entranhariam tanto a terra... o que estou dizendo? As raízes adensaram-se demais em terras minhas, perfuraram-me quase ao ponto de morte, mas eu não queria morrer, A.

Desistir de você? Eu? O importante é que não desistas de ti!
Quantas pessoas, A., passaram por mim e partiram? Quantas? Quantas arrasaram os meus jardins, destruíram minhas rosas? Quantas temeram meus vendavais e preferiram não correr o risco? Ah, querida, eu cansei de tanta aridez, tanta covardia, rios rasos...

Cansar pode ser um bom sinal, então preste atenção aos teus sinais!
Quando eu cansei de entregar em outras mãos aquilo que só a mim pertencia, tornei-me senhora do meu castelo. Ao contrário do que imaginava, não era preciso fortificar suas estruturas, montar guarda, impedir entradas, não, nada disso... a minha maneira, escuta bem isso A., a MINHA maneira foi deixar todas as portas e janelas abertas para que as pessoas saíssem com a mesma facilidade que entravam, sem pensar que corriam riscos de serem pilhadas, encarceradas, roubadas em suas individualidades...

Um breve parêntese, querida, para uma gargalhada! O ser humano é tão tolo, A... quando vão entender que ninguém rouba a individualidade de ninguém, somos nós quem abrimos mão dela. O que a gente não suporta é ser responsável pela nossa infelicidade.

Voltemos...
Hoje, tenho uma meia dúzia de pessoas que escolheram ficar. Sim, são poucas, mas são as que importam, são as que fazem diferença, as que somam, as que amam intensamente, as que não se fartam de sobejo.

Fique tranqüila, querida. Não estou aqui para julgá-la. Não precisas provar absolutamente nada para mim, eu bem sei que não se trata de passividade. Tirando os casos patológicos, ninguém tem prazer em sofrer. Dê os passos que puderes, dentro de tuas medidas.

Eu estarei sempre aqui.

Outra coisa, antes que me esqueça. Eu comi do fruto rubro da árvore proibida, sim! E sabe o que aconteceu? Descobri um mundo vasto em dor e gozo, mergulhei nessa vastidão e Deus alegrou-se comigo.
O diabo? Ele fugiu. Não agüentou concorrência!

Tua V.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Os amigos são pessoas imprescindíveis mesmo! Não importa o vulcão que em nós germina e lança labaredas, eles invariavelmente conseguem nos emocionar.
Obrigada, Carlinhos!


Muito bonito, hein?
Retribuindo o presente (que foi muito inspirador):

Ela, o mistério em pessoa

Olhei-a intensamente.
Ofertei-lhe todo o tempo
Em sua inquietante infinitude,
E tentei plantar flores em seu Eu.

Hoje, devolveu-me o cofre
de promessas irrealizadas.
Não negocia seus mistérios.
E agora eu não sei se é por ela ou
por eles que eu estou apaixonado.

(Carlos Pereira)

sexta-feira, setembro 09, 2005

Eu, pessoa inalienável

Olhou-me diferente.
Ofertou-me o tempo
Em sua infinita relatividade,
Plantou orquídeas no meu coração.

Hoje, devolvo-lhes as chaves
De antigas promessas:
Não negocio meus mistérios,
Meus segredos são indevassáveis.