Teatro
Há um não-sei-quê amadorístico nos gestos e intenções do blefador. Algo oculto em seus olhos trai a encenação. Nem todos os ensaios do mundo são capazes de sanar seu deslize, sua insegurança, o medo de ser delatado pelas palavras mal colocadas, por sua impostura.
Quando ele fala, seus ombros estão sempre curvos, os olhos miram o chão, o sorriso é quase uma agonia. Não se permite tocar e ser tocado, esquiva-se ao menor sinal de contato como se seu corpo recebesse uma descarga elétrica mortal.
Cansei dessa peça. Já conheço bem as marcas, as deixas, o roteiro. Então, quando o refletor muda de foco e a platéia fica na escuridão, eu me retiro do recinto. Mas devo confessar que o faço com pesar, com alguma dor por vê-lo acreditando verdadeiramente na sua mentira.
Reconheço um jogador só de olhar. Eu também já tive meus vícios.