quarta-feira, setembro 29, 2004

AMAR SE APRENDE AMANDO

Amo-o.
Mas ama-se o que em quem se ama?
O que exatamente faz com que o amor se manifeste em quem se ama, quando se ama?
Amo-o.
E amá-lo é uma orquestração, uma afinação poética e velada entre nossas faces rubras, selvagens.
Amo-o. Mas o que nele ressalta, exalta-me é o que realmente vejo? O que pressinto?
O amor, este artefato de complexo manejo, com seus cômodos secretos, corredores esfingéticos, envolve-nos em seus meandros. Ao menor descuido nosso, suas lâminas afiadas, suas lanças pontiagudas, lanham a pele, ferem fundo a carne.
Com que presteza e perícia os dedos habilidosos tecem essa fina trama!
Amo-o.
Às vezes de modo tão cortante, às vezes delicadamente, mas sempre denso e luminoso.
Sorvo sua boca. Enlaço minha língua na sua e, entre dentes, reverbera silenciosamente a palavra amor, embebida de ânsia e ondas.
Amo-o.
E nesse encontro de bocas e rostos, falamos e fazemos amor em segredo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lu: ah essa prosa que se mimetiza em versos... ah essa busca incansável de expressar os abismos da alma... ah delícia de escrita... Beijo leve, como risco de estrela...José de Castro.

Lu disse...

Castro, querido, bom tê-lo por aqui novamente... minha prosa (poética?) só quer comunicar. Beijo.