quarta-feira, setembro 08, 2004

Jerusalém prometida

Estou no centro do enigme que criei.
No seu cerne está o projeto da construção de uma cidade fabricada pela escrita.
O tempo, arenoso, esvai-se entre dedos, lembrando-me que ser artesão de palavras exige um embate cotidiano, sem tréguas.
O atrito entre mim e as palavras provoca faíscas. Nossas fagulhas revelam, ainda que minimamente, partes do enigma que clama por clareza e definição.
Começo, então, o percurso que imita a Torre de Babel: falo em línguas a fim de seduzir as palavras que tecerão os fios que enredam a vida e a morte.
Entre os pólos vida e morte, alfa e ômega é que se localiza a tal cidade verbal que se pretende eterna e indispensável, cidade que quer se perpetuar com seus muros, portões, jardins, esgotos, valas. Sua imponência não permite omissões; sua plenitude decorre da habilidade de espelhar as imperfeições humanas.
Nessa glossolalia, fundo reinos, invento paisagens, firmo pactos e confundo a turba esfaimada enfeitiçando os olhos com meu canto de sereia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lu: que foto linda! Ao contemplá-la, vieram-me os versos: "... meu caminho é de pedra, como posso sonhar? Sonho feito de brisa..."
Um beijo de beija-flor procê.
José de Castro
http://josedecastro.zip.net

Lu disse...

Eu também amei, Castro. Tudo é tão pétreo, forte e também harmônico... exatamente como acredito que deva ser um texto.
Não desisto, um dia edifico minha Jerusalém.
Delicadeza, esse beijo de beija-flor :o)

Anônimo disse...

Lu: você já vem se fazendo "arquiteta" das palavras, e, a cada poesia, vem prenunciando o mosaico-edifício, não sei se Jerusalém, Shangrilah (é assim que se escreve?) ou um novo Olimpo. Mas, as suas palavras de pedra não têm a dureza que machuca, mas a suavidade de quem constrói castelos de bolhas de sabão, que viajam e colorem o mundo, tornando-o um pouquinho melhor de se viver.
Um beijo mineiro para uma fada encantada.
José de Castro.

Lu disse...

O que posso dizer, além de agradecer? Beijoca :o)