segunda-feira, agosto 22, 2005

"Amores serão sempre amáveis"

V., minha V...

Recebi seu presente. Tão delicadas as matryoshkas, querida. Não sei dizer-te se gostei mais delas ou de tua carta que li suspirando como quem lamenta o não vivido ou tem saudade do que não foi.

Eu sei que você enfrentaria todos os tormentos para deliciar-se, ainda que por uma única vez, com os frutos rubros e selvagens. Até já pensei, sorrindo sozinha, que você, tal como Eva, não hesitaria em comer da maçã mesmo que isso significasse ser banida do Paraíso.

Ah, minha V., não desistas de mim! Porque lá no fundo, eu também gostaria de poder, mas eu tenho tantos medos... por enquanto, saber da existência desse lugar tão colorido já é um grande avanço, saber que tenho para onde ir quando eu conseguir romper minhas amarras dá-me um alento enorme, mas V., aprendi a ter raízes profundas e de tanto convivermos, afeiçoei-me a elas. Eu sei quão difícil deve ser para você aceitar esse meu lado, que pode parecer passividade, mas não é, minha querida. Acredite, não é.

Eu tenho dificuldade de me desapegar e eu tomei apego até pelo que faz sangrar. Lembra que minha mãe, na sua bruta ingenuidade, nos dizia que o ser humano acostuma até com o que não presta? É, V., a gente também se acostuma às nossas próprias ruínas, às paredes caiadas, à velha e confortável poltrona de tecido puído. O baú de antiguidades também faz parte de mim.

Outras coisas também fazem parte de mim: orgulho exagerado, dificuldade em admitir um fracasso e uma boa dose de covardia, mas de tudo isso, o que mais me incomoda, querida, é saber que fracassei, que minha love story virou filme de terror, que todo o amor que tenho não é suficiente, não basta... “o amor tudo pode” é uma máxima frustrada, minha cara.

Uma hora eu vou aprender a transformar esse amor que sobra, que é resto em sementes. É preciso saber desistir, V. Deixar livre para que o que não floresceu em terras minhas, floresça em jardins outros.

Beijos,

A.

8 comentários:

Anônimo disse...

desprender o amor e deixar partir é nobre.

beijo e saudade das trocas,

Camila
eloquencia.blogger.com.br

Anônimo disse...

ver nossaflor em outro jardim é mto dificil.
bjos

Anônimo disse...

Uma árdua lição é aprender a desistir do que se que com amor.

Lu disse...

É nobre, Cam, mas a nobreza tem um preço tão alto, não é? Beijos// Lili, é difícil sim e ninguém nos ensina isso, aprende-se com o cultivo. Beijoca.// Ô se é, lição esta que tatua a pele. Bom recebê-lo aqui novamente, Marcos.

Anônimo disse...

Há quem não entenda essa atitude, a resignação diante do que não aconteceu, o não forçar barras, a desistência. Há quem critique isso como uma espécie de fraqueza. Acho tão mais forte do que insistir. Beijo e parabéns pelo aniversário do Glossolalias. Adelaide

Lu disse...

Há que se ter lucidez...forçar os limites até o ponto de não provocar fendas intransponíveis. Obrigada, Adelaide. Beijos.

Lu disse...

a.g. querido, não acho que A. esqueceu-se do futuro, mas concordo que existe algo que lhe faz temer partir, algo que a segura. Eu vejo o desejo ardendo nela toda em se lançar, mas na hora do salto mortal, ela desiste... eu também torço muito para que ela não se entregue à morte.
Saudades de você, moço! Beijos.

Lu disse...

Castro, A. ainda engatinha nos começos. Torço para vê-la crescer em passos largos.