quinta-feira, março 17, 2005

A., minha A.,

As escolhas são necessárias, sim, mas algumas vezes não escolher também é uma decisão, querida.

Não, isso não significa uma atitude passiva diante da vida, significa sim se permitir observar de fora, se retirar da cena por alguns instantes.

Você me fala em luz numa hora de blackout. Hora em que apaguei todas as luzes e mergulhei nas sombras, em busca de começos, da minha gênese. Engraçado, não? O jogo cênico entre luz e sombras não precisa ser antagônico e nesse meu percurso tento fazê-los parceiros.

Obrigada por ser farol em noite escura de tormenta. Imagine um barco sem ponto de referência!!?? Nau à deriva.

Hoje eu consigo estar serena, consigo ser espectadora da minha própria ficção e isso A., me dá uma sensação de liberdade e compreensão que jamais experimentei. Sou eu vivendo os meus minutos e, ao mesmo tempo, contemplando o enredo que traço.

Já parou para pensar que o enredo da nossa vida depende de nossa habilidade (ou inabilidade) de bordar, tramar os fios e arrematar os pontos?

Não ria, A., mas entrei num curso de bordado & tricot e passei a entender com mais clareza os meus fragmentos, rabiscos, inclusive essa nossa correspondência, ao ponto de acreditar mais nos arabescos do que no divã.

A., doce A., essa minha aspereza e dramaticidade diante do mundo é suavizada por sua ponderação. Não sei se alcançarei sua margem, afinal ela é sua, contudo, deve haver alguma margem que abrigue as inquietações dos meus rios.

Beijos,

V.

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