quarta-feira, novembro 03, 2004

Perguntava-me freqüentemente o que realmente me importava. Perdida nessa procura, sem alcançar grandes respostas, voltava novamente a vagar por sentidos.
Li em algum lugar que os gregos, diante da morte, tinham uma única pergunta: viveu com paixão?
A paixão (ou pulsão, talvez dissesse Freud) move o mundo. Muito mais que um clichê, a frase remete às origens profundas da busca do conhecimento humano.
A paixão, numa visão ampla, pode ser entendida como o sopro criador, como o elemento motivador da vida. Ela nos remete à intricada e delicada arte da tapeçaria, dos vitrais, dos mosaicos.
A dissipação dos cristais, a trama dos fios, o contraste das cores e formas reproduz as ações e movimentos individuais para que mais adiante, no grande panorama da vida, vislumbremos o percurso da humanidade pelas realizações de seus anseios.
Recordando tudo isso, fica fácil responder a questão: importa-me a palavra que tudo nomeia e dá sentido.
Foi pela palavra que aprendi a ter tantas paixões.
Paixão pela noite que me abriga; paixão pela música que me transporta; pelos filhos que não tive e são tão meus; pelo homem que amo e contemplo, ainda que, por vezes, se distancie e isole sem anúncio ou cuidados.
Tendo todos esses elementos, risco meu bordado para depois cobri-lo com mil tramas, todas elas gestadas em e por mim.
Quando o trabalho estiver completo, a gravura surgirá em resposta à pergunta última: sim, viveu apaixonadamente.

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