segunda-feira, junho 09, 2008

(II)

“Tudo é inútil. Estar aqui deitada e entregue a um estranho também é inútil, uma perda de tempo. O que quero descobrir que ainda não sei? Não há nada que já não saiba há um milhão de anos, um milhão de vidas. É o peso do tempo que carrego sobre os ombros. O peso de ter me visto de fora, ver em mim o que toda a gente vê: o Nada, um imenso tédio, a constatação de que não sirvo para nada, fracassei. Fracassei em não ambicionar dinheiro, objetos, títulos. Fracassei por não ter par, por mais vil que fosse. Ver em mim o que os outros vêem é uma experiência de morte. Mas como, se já nascemos mortos?
Eu queria fugir só para não ser quem sou. Ir para onde não me conhecem, para não mais encontrar os rostos conhecidos que sempre expressam nas suas feições a incompreensão diante da minha dor, ma eu nunca sairei daqui. Então, eu sonho em ser outra e isso é mais verdadeiro do que qualquer realidade.
Já faz algum tempo que me despedi da vida, porque descobri que viver e morrer não são tão diferentes. Há tantos que vivem, mas já estão mortos! E eu não enxergo nessa gente senão desprezo. Quem sente demais encerra em si a impossibilidade de tocar o outro e é esta solidão que torna tudo inútil”.

4 comentários:

Camila Pereira M. disse...

é esta solidão que junta os iguais;
mistério absoluto e soberano da vida.

e a minha língua?
- é a do coração.

Camila Pereira M. disse...

é esta solidão que junta os iguais;
mistério absoluto e soberano da vida.

e a minha língua?
- é a do coração.

Lu disse...

Viva o mistério, Mila.
E eu não sei que você tem um coração pulsando nas mãos?

bete p.silva disse...

"Ver em mim o que os outros vêem é uma experiência de morte."
Me assusta. Gostaria de saber só por um minuto como sou vista pelos olhos das pessoas...elas vêem a decadência em mim, creio, são visíveis os sinais de finitude, eu é que me esforço por não ver. As vezes penso no ridículo da maquilagem, pós e batons tentando esconder o ocaso...