segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Um mini impressionista

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As banhistas, Paul Cézanne


Era o nosso último verão juntas. Assim que ele terminasse, iríamos cada uma em busca das próprias aspirações, enfrentaríamos, sozinhas, os nossos medos, sem ter umas as outras para apoiar. Afinal, chega uma hora na vida em que as pernas precisam dar conta do percurso que escolhemos trilhar.
Durante todo o tempo em que ficamos juntas, jamais ousamos falar na despedida, na hora do adeus. Nada havia sido combinado, mas agíamos como se veladamente soubéssemos da existência de um código secreto: se não falássemos, não doeria.
Até que Giulia surgiu com a idéia de um quadro. Havia conhecido no hotel, um jovem pintor francês – Paul – de muito talento. Ela o convenceu a nos retratar. Não imagino como, uma vez que ele falava muito pouco e estava sempre muito isolado.
Fomos todas as cinco ao encontro de Paul numa colina. Chegamos lá e ele não estava. Esperamos minutos, horas e nem sinal do pintor. Começamos a ficar um pouco irritadas com a demora; depois completamente desoladas, resolvemos esquecer a questão.
Apesar de desprevenidas, fomos nadar no lago. Já não nos importávamos se alguém aparecesse. Se isso acontecesse, seria uma lembrança alegre e despojada daquele nosso verão.
Muitos anos depois, quase vinte, nos reencontramos em Paris. Aproveitamos a tarde para conhecer a galeria de um amigo meu.
Passeando os olhos pelos muitos quadros, ouvimos o gritinho histérico de Giulia. Paramos apatetadas diante daquelas mulheres nuas numa colina. Aquela colina!
Lia-se embaixo da tela: As banhistas, Paul Cézanne.

3 comentários:

Anônimo disse...

*suspiro*
Posso perguntar uma coisa? Como você consegue deixar a gente sem palavras, sempre?!
Beijo

Lua em Libra disse...

Ô imaginação danada de boa, minha Lu. Beleza de argumento. Com Cèzanne ao fundo, então, impecável desnú.

Beijo na alma

Anônimo disse...

E aí, linda? Se esbaldou? Eu, descansei bastante. Saudade de ti. Beijo