quarta-feira, novembro 09, 2005

ESCREVER. Enganos profundos, debates e impasses que provocam o desejo de “exprimir” o sentimento amoroso numa criação (notadamente de escritura).

4. querer escrever o amor é entender a desordem da linguagem: essa região tumultuada onde a linguagem é ao mesmo tempo demais e demasiadamente pouca, excessiva (pela expansão ilimitada do eu, pela submersão emotiva) e pobre (pelos códigos sobre os quais o amor a projeta e a nivela).


Relendo Fragmentos de um discurso amoroso do Roland Barthes, deparei-me no “verbete” ESCREVER. Refletindo um pouco e extrapolando os limites do discurso amoroso, sou capaz de generalizar que a necessidade de exprimir qualquer sentimento provoca o desejo da criação artística em suas mais diversas expressões e, no meu caso, o desejo é notadamente a de fiar escrituras.

***

Era uma vez uma história de amor e como tal pretendia-se linda, plena de significados e sintaxe perfeita, mas uma história de amor é bem mais (ou seria bem menos?) do que escrever uma história de amor.

Durante dias labutou sobre o papel, enervou-se, rasgou palavras, esmiuçou verbos. Na lixeira, jaziam infinitas possibilidades de dizer eu-te-amo: nenhuma resultou ser convincente.

Então, respirou fundo e resolveu esperar pela inspiração como o amante que, sentado ao lado do telefone, aguarda – excitado, mas fingindo paciência – os toques estridentes. Após um tempo, como o telefone não toca, a angústia toma conta.

Cansou de esperar e tolerar atrasos.

Chorou copiosamente por pouquíssimos segundos. Limpou o nariz na manga da camisa, amassou o papel entre as mãos e que era pra ser uma história de amor virou vinagre.

6 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

eu ainda acredito em histórias de amor, caso não o fizesse talvez não tivesse escrito aquele ultimo texto do Povo...isto é que é o céu...

eu acho piada aos escritos do Roland Barthes, especialmente os relacionados com fotografia... mas isto já é outra conversa

um beijo grande...escrevo em breve

Lu disse...
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Lu disse...
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Lu disse...

Ooooooiiiii, mana! Eu entendo a correria. Beijão// Vítor, quanta saudade meu amigo! Pois é, essa historinha aí é uma provocação... nem sempre a escritura dá conta de traduzir o que vai aqui dentro. Beijos.

Anônimo disse...

Agora você me fez pensar que já houve crise de combustível, de falat de trigo, da futura falta de água, da falta de carne, de feijão... Mas nunca faltou vinagre.

Lu disse...

Bingo, Marcos! Hahahaha.