terça-feira, novembro 01, 2005

Existem alguns livros que conseguem manter o frescor das novas descobertas mesmo após muitas releituras.
A História de Cronópios e Famas, de Julio Cortázar é um desses livros. Não sei explicar direito, mas todas as vezes que releio esse trecho uma sensação estranha me invade. É como se chovesse dentro de mim.
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Gotas, Rui Vieira.

APLASTAMIENTO DE LAS GOTAS

Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana; se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes, mientras le crece la barriga; ya es una gotaza que cuelga majestuosa, y de pronto zup, ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol. Pero las hay que se suicidan y se entregan enseguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran; me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.

P.S1: Agradeço ao Pedro por ter me apresentado esse espetáculo pluvioso.
P.S2: Aqui tem mais Cortázar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Me lembrou uma redação que fui obrigado a fazer quando estudava na sétima série. O tem: "Duas gotas d'água", até hoje o texto mais difícil que já escrevi. Isso diferencia os artistas dos mortais, eles conseguem tirar do quase nada coisas simples e tão bonitas. Quisera eu ter lido isso àquela época...

Fernando Santana Jr disse...

Preciso melhorar, e muito, o meu castelhano... Mas concordo.
Há livros que se revelam novos a cada leitura que fazemos. Que bom!

Lu disse...

Essas redações com temas definidos eram uma tortura, hein Marcos? Aquela famosa "minhas férias" me deixava louca! rs. É verdade, artista é artista, mas escrever "sob encomenda" é uma droga! Beijos// Fernando, quanto tempo! Esse trecho aí é do livro "A história de cronópios e famas" que possui uma boa tradução. Beijos

Anônimo disse...

Lu, minha Lu

que Cortázar mais Rulfo, esse, não? Cheguei a sentir o cheiro... Claro que não lembro mais se no Pedro Páramo ou se no Planalto em Chamas, mas tem uma cena de chuva até a eternidade que é muito, mas muito parecida...

Beijos na alma e boa semana

Lia

Lu disse...

O cheiro de terra molhada impregna o ar, não é, minha Lia?
Acho que o trecho do Rulfo é do Planalto em Chamas.
Saudades, querida!!