sexta-feira, dezembro 31, 2004

Mini de Ano Novo

Fogos, luzes, vozerio, gargalhadas.
Hoje o mundo todo está barulhento e iluminado, com exceção daquele apartamento no quinto andar: luzes apagadas, silêncio, quietude.
Samuel é um homem discreto, monossilábico. Do seu apartamento emana mornidão: as luzes, a música, o som da televisão. Tudo é abafado e opaco.
Hoje, em especial, enquanto todos estão febris e velozes, Samuel medita na escuridão do seu apartamento, protegido pelo seu silêncio interno e pelas cortinas cerradas.
O estado é de catatonia.
A única coisa que vive e pulsa é a sua memória. Lá dentro, a construção tempo/espaço/imagens é elaboradíssima. Tudo está intacto – pessoas, lugares, sabores, texturas, odores.
A memória de Samuel resiste à poeira e às ranhuras. Ela é uma marca indelével que lhe resgata uma parte da vida. A outra é um cotidiano aborto.
Meia noite! Samuel ergue sua taça e balbucia: “Feliz Ano Velho”.

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