quinta-feira, outubro 07, 2004

Historinha manuscrita por Osman Lins para suas meninas

Era uma vez um homem que não servia para nada. Nem mesmo para mentir: suas histórias eram sem graça, inventadas com tanta falta de jeito, que aborreciam todo mundo.
Então, como era preciso conseguir-lhe alguma serventia, começaram a lhe pregar na roupa as fitas e medalhas que eram encontradas nas gavetas. E que, como o tal homem, também não serviam para nada.
Depois de algum tempo, o homem parecia uma loja de miudezas, um armarinho. Até nas pernas tinha penduricalhos, santinhos, medalhinhas, medalhões.
Foi aí que as próprias pessoas que, como esse homem, para nada serviam, tinham pendurado nele essas coisas, começaram a respeitá-lo.
Os que chegavam de fora e visitavam a cidade, vendo aquela figura cheia de medalhas, pensavam que era um grande herói. Tiravam o chapéu diante dele e se curvavam, afastando-se para dar-lhe passagem.
Quanto ao Vale-nada, vendo-se tão glorificado, passou a considerar-se um Rei. Passou a dar ordens, cada vez mais cruéis.
As pessoas, com pavor do tirano que, por brincadeira ou fastio, haviam criado, fugiram.
O homem ficou sozinho na cidade. Sem coragem de trabalhar, não plantava nem criava. Um dia, não tendo mais o que comer, comeu as próprias medalhas e morreu engasgado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara Luciana-poeta, teu Osman Lins é sábio. Devemos tentar "comer" poucas "medalhas" enquanto viventes. Pensando aqui, na nossa volta quanta gente engolidora de medalhas existe...lembrando de muitas agora...lembrado de sabidos engasgados. Sds - Pedro.

Anônimo disse...

Você conhece a música "Pedro, Meu Filho", de Vinícius e Toquinho? Esse texto me lembrou essa música. Ambos muito bonitos.
Marcos
www.esculachoesimpatia.zip.net

Lu disse...

Marcos, não conhecia, não. Mas tão logo você citou a música, fui ao seu encalço. Obrigada.
Pedro, o que dizer? Digo q~ue não quero engolir medalhas nem medalhinhas :)