segunda-feira, outubro 04, 2010

Passos pequenos, mas constantes


Novo amanhecer, Ricardo Furtado.

Ontem o povo brasileiro finalmente deu mostras de que caminha por estrada sinuosa, mas que está receptível às mudanças estruturais referentes às sociedades democráticas.

Não tenho partido, mas sempre fui uma pessoa de esquerda, mesmo quando eu não sabia que existia um conceito de esquerda.
Até o uso desse linguajar diz algo sobre mim... não me furto ao riso ao relembrar do saudoso Bobbio, que já no seu Destra e Sinistra: Ragioni e significati di una distinzione politica discorria sobre a atualidade desses conceitos. Ele começa o livro perguntando: "direita e esquerda ainda existem? E, se existem ainda, como se pode dizer que perderam completamente o significado?".
Como Bobbio, eu acredito que os conceitos de Direita e Esquerda, surgidos durante a Revolução Francesa, ainda são muito significativos, principalmente se analisados à luz da questão da liberdade e igualdade entre os homens.
Desde a morte de ACM, observa-se mudanças sutis no comportamento político dos cidadãos brasileitos e nesta última eleição ficou claro para mim que a fome por mudanças está latente em nossa sociedade.
Quem ousaria pensar num cenário político sem Marco Maciel, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Geddel Viana?
E os joguinhos insanos e megalomaníacos de Roriz, que todo dia forja uma maneira de ludibriar a lei? Mas nesse sentido, "tudo bem", a lei abre milhares de precedentes para que o fim seja prolongado tal qual aquelas telenovelas que ja perderam o sentido, mas para manter o ibope, vão destruindo as personagens até que não sobre nada.
Quando, contudo, a Ética e a Moral são atacadas cotidianamente com subterfúgios e estratagemas nefastos, quando tripudiam na cara de uma Suprema Corte negligente e conivente, subjugando a capacidade de pensar da sociedade civil... as respostas surgem.
Há um bom tempo que não tenho ilusões no que se refere a siglas e partidos. O jogo político é muito mais difícil de entender quando ele sai das páginas dos livros e ganha o terreno da disputa. As pessoas são corruptíveis independentemente de partidos. As banderias da paz e da democracia já serviram tanto a algozes quanto a regimes totalitários.
Mas o que mais me impressiona mesmo é ver o peso que uma ideia traz consigo. O PT evoca um conceito falacioso, ignorante e totalmente fundamentalista do que é esquerda, do que é comunismo, socialismo ou qualquer palavra que se encaixe nesse jogo semântico.
Eu fico aterrorizada de ver os jovens repetindo o mantra: eu voto em qualquer um, menos no PT.
E isso inunda os discuros de uma fé cega, o tipo de obscurantismo pelo qual eu sempre lutei contra... Sexta-feira passada, antes das eleições, eu li uma matéria no Yahoo sobre o pleito de domingo e logo abaixo fui ver os comentários e tinha um que dizia assim: "esses petistas burros, pobres e nordestinos"... Nunca vi tanto preconceitos e desinformação reunidos numa simples frase (só faltou o "preto")... eu custo a acreditar que estou no século XXI, que existe robótica, engenharia genética, informações jorrando de infinitas mídias.
Ontem, antes de dormir, vi no noticiário que os eleitores de São Paulo, se tivessem a opção de votar no Maluf nestas eleições, fariam dele o segundo candidato mais votado. Maluf ganhando de Gabriel Chalita, isso, sim, é que deveria causar estranhamento, mas parece que fui eu quem ficou anacrônica...
Não estou fazendo apologia a um partido ou a um candidato. Vote no candidato que quiser, inclusive nos Enéias e Tiriricas, mas que o voto tenha bases razoáveis e nao em assombrações que nem exorcismos conseguem curar.



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