quinta-feira, outubro 14, 2010

Das controvérsias

Eu assisti a um vídeo (Sempre um Papo) do João Moreira Salles explicando o motivo de a revista se chamar Piauí... reproduzo aqui a fala dele, que achei por si só muito bonita e poética, até porque quem me conhece sabe que sou apaixonada pelas palavras, sua etimologia, a metalinguagem, sua origem criativa, as construções possíveis de seus significados, sua vida secreta.

Por outro lado, é no mínimo curioso referenciar o Gilberto Freyre, o criador do controverso conceito da “democracia racial”, para a explicação plástica de palavras em que as vogais abundam.

Eu me delicio com esse caos palavroso e o quanto de ideologia ainda se embute nos conceitos e referências que buscamos e usamos.

Não vai aqui nenhuma crítica ou reprovação. Apenas uma constatação de que a palavra expressa mais do que significados semânticos; a palavra expressa uma postura de vida. A palavra nos revela.


A revista se chama Piauí por uma razão que pode parecer trivial e banal, mas pra mim é a que acabou prevalecendo. É uma palavra cheia de vogal e eu gosto das palavras que têm vogais.

Eu li há algum tempo no Gilberto Freire uma coisa que ele dizia a respeito das línguas com vogais. Ele dizia que os países ensolarados, os países quentes, os países tropicais geralmente têm idiomas onde prevalecem as vogais. E que os países frios, os países nórdicos falam com muita consoante.

A vogal é macia, é doce e a consoante é aguda, ela fere. Consoante é bom pra dar ordem e vogal, de certa maneira, é bom pra descansar. E é mais simpática uma palavra solar, digamos assim, do que uma palavra gelada. E Piauí tem essa característica de ser uma palavra cheia de vogal.


* Etimologicamente, Piauí é uma palavra de origem tupi-guarani, onde o "í" significa rio e "piau" é uma espécie de peixe.

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