terça-feira, maio 20, 2008

Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vida, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reação contra mim desce-me da consciência.


PESSOA, Fernando. O livro do desassossego. Cia. das Letras, 2006.

2 comentários:

bete p.silva disse...

0 livro do desassossego é tudo. E olha, hoje estou me sentindo meio assim. Deprezona!

Lu disse...

Bete querida, quisera ter uma palavra, mágica talvez, que ao ser pronunciada todo espírito se aquietasse, inclusive o meu.
Espero que fique bem, bem depressa.
Beijo.