terça-feira, abril 17, 2007

As matriarcas (8)

Fui esperar Tiziu em frente da Escola Municipal. Pelo pouco que já conheço do moleque, cheguei com dez minutos de antecedência para não perdê-lo de vista. Levado como era, imaginei que ao primeiro toque do alarme, ele sairia voando pelo portão, doido para deixar a “masmorra” para trás. Errei. Ele nem esperou o alarme soar, cinco minutos antes do horário, Tiziu saiu pelo portão com o passo apressadinho como se não quisesse dar oportunidade de ser agarrado pelo bedel do colégio. Ele enxergou-me de longe e veio saltitando em minha direção como os olhos arregalados:
- D. Olívia!
- Tiziu!
- A professora já tinha terminado, viu? Não fugi da aula, não senhora.
- Eu não disse absolutamente nada, Tiziu.
- Mas antes que a senhora diga...
- Não estou aqui para vigiar você. Fique calmo. Vim porque combinamos um passeio de bicicleta para mais tarde, mas antes preciso ir a um lugar.
- Que lugar é esse?
- Uma casa que fica no Largo da Esperança.
- No Largo da Esperança? De quem é a casa?
- Foi da minha família: bisavós, avós, minha mãe e agora é minha. Mas ela está fechada há alguns bons anos.
- Não gosto de ir por aquelas bandas, D. Olívia.
- E por quê?
- Porque tem muita alma por lá.
- Como é, menino? Que história é essa?
- Falam que lá tem uma casa assombrada que pertenceu à D. Maria da Anunciação. Em algumas noites, uma dona doida anda pelas ruas do largo, vestida de Maria Madalena...

Minha visão ficou turva e a voz de Tiziu foi sumindo, sumindo até que não ouvi mais nada.

3 comentários:

dade amorim disse...

Histórias e causos tão saborosos, Lu, que dá vontade de ficar aqui lendo durante horas... Um beijo grande pra você.

Anônimo disse...

Que coisa! estou branco! sem fala!

Lu disse...

Fico feliz em saber que a leitura está sendo interessante, porque escrever essa história tem sido um prazer. Beijão, querida.

Eita! Então se apruma aí na cadeira, J. que logo vem mais. :))