sábado, janeiro 06, 2007

De volta à programação "quase" normal

Filosofia barata (1)

- E se tudo não passar de uma grande ilusão? Se estivermos todos mergulhados tão profundamente no sono que passamos a acreditar que isto é real?
- Como assim?
- Esquece. É mais um dos meus delírios, mais uma das minhas tentativas de colocar lógica, alguma razoabilidade na vida.
- És doida.
- Eu sou – riu-se.
- Essa paz de que falas, que almejas fica cada dia mais distante, não vês? Nunca a terás se quiseres controlar tudo, entender tudo, explicar tudo. Há coisas que não se explicam, são os mistérios insondáveis da alma, da vida.
- Estás a dizer-me que somos títeres? Um bando de levianos?
- Não, estou a dizer que somos diferentes e temos padrões éticos e morais conflitantes. Há quem ache banal coisas que consideras importante. E o que vias fazer? Passar a vida em dor ou aceitar que toda essa gente não é par para ti, mas pode ser para outros?
- Sou obtusa, incontestavelmente – debochou.
- Sabes que é isto que te salva da insanidade? Teu humor ácido, tua ironia, teus deboches.
- Cada um defende-se como pode.
- É quando não te levas tão a sério que posso ver tuas asas.
- Não tenho intenção de escondê-las, mas sim de usá-las sem medo ou restrição. Mas há tantos muros...
- Sempre haverá, mas tens a opção de voar alto, acima deles.
- Então compreendestes, finalmente, o meu dilema.
- Compreendi?
- Voar acima deles instalará tal distância que o convívio tornar-se-á impossível e ficar próxima limita-me a envergadura.
- Alguns dilemas são cárceres, labirintos sem saída ou, no máximo, de uma saída só: matar ou morrer. Outros, porém, são multifacetados; abrigam muitos caminhos, promovem a busca do equilíbrio, entendes? Podes traçar um plano de vôo onde tuas asas toquem as duas extremidades.
Ela riu.
- Do que ris?
- Dessa conversa, da tua amizade, do diálogo em espiral...
- Explica-me.
- E sou eu quem gosta de explicações!
- Minha culpa, minha máxima culpa.
- O riso vem do prazer de ter alguém confrontando sem guerras, do cuidado em confortar e buscar – juntos e de modo inclusivo – alternativas possíveis, do movimento quase cênico em apresentar idéias, como se bancássemos o advogado do diabo um do outro.
- Tudo filosofia barata regada a bom vinho.
- In vino veritas.

6 comentários:

Sandman of the Endless disse...

Meu anjo, pelo que li, após uma breve pausa (nada comparado ao meu recolhimento sabático por demais prolongado...) iniciaste o ano muito bem, com a sua verve bem estimulada! Gostei do diálogo com que nos brindou! Seus textos são deliciosos, minha querida, já o disse... Adoro lê-los. Adoro quando escreves, pois, independente das circunstâncias em que possa estar envolta (embora não possa deixar de preferir as mais amenas...), sinto-a bem viva e próxima assim. Continuemos bem o Ano, Lu, de preferência regados a um bom vinho! (... A sugestão, aqui, foi sua!). A propósito, a Filosofia e o seu conjunto de necessárias indagações, meu anjo, faz parte da vida... Beijos...

Lu disse...

O que seria de mim sem amigos-leitores tão, mas tão generosos? hehehe
Sabe, menino, este ano já tem me mostrado que as filosofias baratas e os adágios populares que tanto gosto não meramente senso comum.
Sobre o demais, estamos vivos, não estamos? Não fácil de morrer!! Mesmo com a vida cheia de "quases", eu dou um jeito de prosseguir.
Ops, será que li direito? Isso foi um convite para um vinho??
;o)

Sandman of the Endless disse...

Brigado, Lu, por tudo... Quando ao vinho, acaso duvidaste mesmo que não o fosse, garota?! ;0)

Edilson Pantoja disse...

Oi, Lu! Vim conferir. Pois é... Ah! As questões em espiral... A vida é um grande movimento em espiral. Beijo pra ti e feliz 2007! Ainda não escrevi o novo capítulo, talvez daqui para amanhã. É tanta coisa a exigir tempo... Abraço!

Anônimo disse...

o novo ano saíu já com uma nova série...hummm ... gostei muito do que li, adoro esse papel de advogado do diabo....

Lu disse...

Sandman, era só mero exercício de retórica...hahaha.
Oi Edilson! Logo mais vou conferir as histórias desse teu faroleiro. Beijo pra ti.
Meu Vítor, sim, uma nova série para iniciar o primeiro ano do resto da minha vida... não quero mais nada que tenha cheiro de mofo.
Saudades.