sexta-feira, setembro 16, 2005

Minha A.,


Eu também já tive profundas raízes, esqueces? Algumas ainda estão lá e não duvido que sempre estarão; outras eu tive que arrancar, lançar ao fogo, caso contrário, entranhariam tanto a terra... o que estou dizendo? As raízes adensaram-se demais em terras minhas, perfuraram-me quase ao ponto de morte, mas eu não queria morrer, A.

Desistir de você? Eu? O importante é que não desistas de ti!
Quantas pessoas, A., passaram por mim e partiram? Quantas? Quantas arrasaram os meus jardins, destruíram minhas rosas? Quantas temeram meus vendavais e preferiram não correr o risco? Ah, querida, eu cansei de tanta aridez, tanta covardia, rios rasos...

Cansar pode ser um bom sinal, então preste atenção aos teus sinais!
Quando eu cansei de entregar em outras mãos aquilo que só a mim pertencia, tornei-me senhora do meu castelo. Ao contrário do que imaginava, não era preciso fortificar suas estruturas, montar guarda, impedir entradas, não, nada disso... a minha maneira, escuta bem isso A., a MINHA maneira foi deixar todas as portas e janelas abertas para que as pessoas saíssem com a mesma facilidade que entravam, sem pensar que corriam riscos de serem pilhadas, encarceradas, roubadas em suas individualidades...

Um breve parêntese, querida, para uma gargalhada! O ser humano é tão tolo, A... quando vão entender que ninguém rouba a individualidade de ninguém, somos nós quem abrimos mão dela. O que a gente não suporta é ser responsável pela nossa infelicidade.

Voltemos...
Hoje, tenho uma meia dúzia de pessoas que escolheram ficar. Sim, são poucas, mas são as que importam, são as que fazem diferença, as que somam, as que amam intensamente, as que não se fartam de sobejo.

Fique tranqüila, querida. Não estou aqui para julgá-la. Não precisas provar absolutamente nada para mim, eu bem sei que não se trata de passividade. Tirando os casos patológicos, ninguém tem prazer em sofrer. Dê os passos que puderes, dentro de tuas medidas.

Eu estarei sempre aqui.

Outra coisa, antes que me esqueça. Eu comi do fruto rubro da árvore proibida, sim! E sabe o que aconteceu? Descobri um mundo vasto em dor e gozo, mergulhei nessa vastidão e Deus alegrou-se comigo.
O diabo? Ele fugiu. Não agüentou concorrência!

Tua V.

7 comentários:

Anônimo disse...

e é assim...raizes grandes demais tiram o movimento. e não é o que queremos, pois não?

Camila
eloquencia.blogger.com.br

Lu disse...

Não mesmo, Camila. Queremos o bailado das horas. Beijos.

Anônimo disse...

Será que o diabo foge?
Não creio...
;-)

Lu disse...

pero que los hay! :)
Sim, Luís, acredito que o diabo foge, sua presunção e orgulho não suportam o enfrentamento. Como o medo, ele só permanece enquanto não ousamos desafiá-lo.

Anônimo disse...

Nem mais, Lu.

Vítor Leal Barros disse...

esta é a melhor carta de V. ...lúcida esta V....completamente lúcida!!!

Lu disse...

Vítor querido! Que bom tê-lo de volta.
Sinto que a correspondência chega perto do fim e ainda preciso expor a ferida da lucidez de V.
Beijos.