sexta-feira, junho 03, 2005

Querida V.,

Finalmente começo a vislumbrar a presença estimulante de uma luz, ainda fraca, ainda débil, ainda tímida, mas extrema e apaixonadamente desejada.
Como é reconfortante saber de mim mesma, acreditar na minha existência quando tudo o mais era ruínas e escombros; como é bom poder olhar meu rosto no espelho e ver marcas que contam um pouco de mim e da minha história e poder perceber que meu sorriso ainda guarda doçura.
Acidez e amargura são sentimentos pontuais e descartáveis, necessários às vezes, quem sabe, mas não consitituintes e conformadores da minha imagem.
Quero a loucura, a velhice, os amigos e o açúcar como companheiros, todo o resto, querida, não é bem-vindo e não cruzará os umbrais da minha casa.
Obrigada pelo Hesse.
Beijos,
A.

3 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

acho que desta vez foi o Povo que inspirou as tuas epístolas... nunca te tinha dito isto, mas acho a epístola um dos processos de escrita mais completos...ela implica sempre um diálogo.... é muito bom podermos envelhecer dignamente, com a sensação de que apesar de tudo conseguimos preservar a nossa dignidade e a nossa identidade... lu, este texto é muito forte...muito forte mesmo... digo-te, eu não sou velho e quando o digo, digo-o literalmente, mas sinto que a vida já me deu muito, do bom e do mau. de tudo o que me deu tirei uma grande lição, que o caminho passa apenas por sermos dignos e honestos connosco próprios... se o fizermos tudo correrá bem e seremos sem dúvidas uns velhos tranquilos, doces como escreveste. esse é o maior objectivo da minha vida e vou-me construindo respeitando esse ensinamento. para terminar deixa-me só contar-te um episódio que lembro com muito muito carinho. o meu professor de projecto do último ano da faculdade um dia, na nossa despedida do curso, escreveu-me em forma de dedicatória isto: "v., que continues a dar o melhor que tens na procura e no encontro com o essêncial, na certeza que se o fizeres toda a tua vida terá feito sentido." estas palavras marcaram-me e marcam-me a pele todos os dias. foi o maior ensinamento que a escola me deu... eu agradeço ao professor P.A. o ter tido a coragem de nos olhar como seres humanos....

um beijo

Anônimo disse...

Um dos maiores prazeres da vida é saltar os obstáculos mesmo que com pequenos arranhões. As cicatrizes dão orgulho.
Vim lhe comunicar meu novo endereço, uma vez que fui "expulso" do zip.net.

Lu disse...

Leal, que pedaço lindo de ti deixaste aqui no blog. Obrigada pela tua amizade e cumplicidade, pelas experiências. PS: Sim, "O povo" é co-responsável pela missiva. Beijão// Marcos, saudade de te ter por aqui... pois é, também eu já fui expulsa uma vez do zip. net. Vou te visitar no teu novo espaço, me divertir com tuas observações sempre tão certeiras.