sexta-feira, junho 17, 2005

A.,

Escrevo-te com a urgência dos que morrem e dos que amam.
Já percebestes, minha querida, que tanto os que amam como os que morrem têm a mesma reclamação?

É sempre pouco o tempo que lhes resta, mal podem esperar pelo amanhã; o presente é rápido demais e o passado é um lugar muito distante.

É esta urgência que reivindico para mim. Quero ser feliz agora, A.! Quero a ruptura, o cessar fogo, o perdão. Já!

Estou recomeçando mais uma vez, querida. Quero muito não ser só o alpha.

Vou fechar os olhos e quando os abrir novamente quero enxergar outras paisagens, aprender novas línguas, conhecer gente, vestir outras roupas, descobrir novas melodias, visitar lugares, enfim, quero uma segunda edição de mim, revisitada e ampliada.

A primeira medida desse novo livro será a de abolir adendos e notas de rodapé. Quero ser simples, A. Se não puderem me compreender numa primeira leitura, quero ser abandonada em um canto qualquer, mas não quero (e não vou) mais me explicar.

As entrelinhas também serão cortadas. Eu sou o que sou.

Não me procurem atrás de uma vírgula, após as reticências. Terminarei no ponto final.

Refarei todo o percurso para descobrir onde foi que me perdi, em que curva, qual estrada e quando descobrir o tal desvio, traçarei a rota em linha reta.

Beijos,

V.

6 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

parece que v. arriscou dar o salto...estou curioso...esta personagem vai crescer imenso na próxima correspondência, ou estarei errado?

Anônimo disse...

Pelo texto para "A." ! Gostei.
Amiga, visita p'ra desejar um ótimo final de semana.
Abraços e ate breve.

Lu disse...

Obrigada, Magro. Nos veremos ;-)// Leal, a correspondência nem sempre é planejada, vez por outra, A. e V. gritam por mim e tenho que atender ao chamamento. Muitas vezes só sei o que acontece com elas na hora de escrever, mas sinto que V. está lutando há tempos para dar o tal salto.// Beijos

Anônimo disse...

Lu, deixei-te mais um desafio lá no POVO

Anônimo disse...

Solidária no não querer explicar-se, V, sinto a pressão da palavra pulsando e a deixo esvair-se, hemorragia incontida. Guardo o verbo entre satélites desimportantes que luneta nenhuma alcança. Que assim seja, ao menos por enquanto. Beijos na alma, amada. Lia com saudade

Lu disse...

Os tempos são como estações, minha Lia. Deixe simplesmente que elas venham e cumpram o seu ritual. Beijos saudosos de ti e de tuas palavras.