Bastou amanhecer para que a criança sentisse o cheiro do perigo a rondar.
Farejou um pouco mais e descobriu suas formas.
O perigo é uma ave de rapina com sorriso de gato. Sua face sorridente oculta olhos vorazes e dentes fortes.
O aspecto doce não disfarça seu apetite selvagem por carnes tenras e lágrimas convulsas. Delicia-se quando nota o pavor, emanando o perfume enjoativo do medo.
A criança entende seu jogo: enxuga o orvalho da cara, engole o choro e desdenha de sua aparência medonha.
O perigo enfia o rabo entre as pernas, baixa as orelhas e dorme faminto.
O perigo, uma dia, vai morrer à míngua feito cão danado e sem dono, porque a criança vai crescer e descobrir que não existe bicho-papão.
4 comentários:
Infelizmente, depois da morte do bicho-papão outros medos virão.
Marcos
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Contanto que sejam nossos...
não há coragem sem medo
É isso aí, Alexandre... o equilíbrio vem dos contrários. Abraço.
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