quinta-feira, novembro 24, 2005

Querida V.,

Há quase dois meses enviei-te uma carta. Como não obtive respostas, fiquei sem saber se houve problemas com o serviço postal ou contigo. Espero que seja apenas uma banalidade, querida, um problema de extravio de correspondência.

Ando tendo sonhos estranhos, V., e aí lembro de ti dizendo-me para prestar muita atenção neles. Ah, V., você e suas manias! Posso ouvi-la, com ar muito sério: “somos cercados por sinais”.

Então, preste atenção nesse sinal: já é quase primavera. Não bastasse a profusão de cores e aromas que invadem Paris nessa época, vou levando uma flor muito rara para enfeitar ainda mais essa cidade – a minha Tereza.

Ligarei assim que o avião pousar.

Saudades,

A.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Pense nisso!

Dica do meu amigo Vítor que hoje comemora dois grandes eventos.

"Feio é fumar, tu não comeces...!"
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quarta-feira, novembro 09, 2005

ESCREVER. Enganos profundos, debates e impasses que provocam o desejo de “exprimir” o sentimento amoroso numa criação (notadamente de escritura).

4. querer escrever o amor é entender a desordem da linguagem: essa região tumultuada onde a linguagem é ao mesmo tempo demais e demasiadamente pouca, excessiva (pela expansão ilimitada do eu, pela submersão emotiva) e pobre (pelos códigos sobre os quais o amor a projeta e a nivela).


Relendo Fragmentos de um discurso amoroso do Roland Barthes, deparei-me no “verbete” ESCREVER. Refletindo um pouco e extrapolando os limites do discurso amoroso, sou capaz de generalizar que a necessidade de exprimir qualquer sentimento provoca o desejo da criação artística em suas mais diversas expressões e, no meu caso, o desejo é notadamente a de fiar escrituras.

***

Era uma vez uma história de amor e como tal pretendia-se linda, plena de significados e sintaxe perfeita, mas uma história de amor é bem mais (ou seria bem menos?) do que escrever uma história de amor.

Durante dias labutou sobre o papel, enervou-se, rasgou palavras, esmiuçou verbos. Na lixeira, jaziam infinitas possibilidades de dizer eu-te-amo: nenhuma resultou ser convincente.

Então, respirou fundo e resolveu esperar pela inspiração como o amante que, sentado ao lado do telefone, aguarda – excitado, mas fingindo paciência – os toques estridentes. Após um tempo, como o telefone não toca, a angústia toma conta.

Cansou de esperar e tolerar atrasos.

Chorou copiosamente por pouquíssimos segundos. Limpou o nariz na manga da camisa, amassou o papel entre as mãos e que era pra ser uma história de amor virou vinagre.

terça-feira, novembro 01, 2005

Existem alguns livros que conseguem manter o frescor das novas descobertas mesmo após muitas releituras.
A História de Cronópios e Famas, de Julio Cortázar é um desses livros. Não sei explicar direito, mas todas as vezes que releio esse trecho uma sensação estranha me invade. É como se chovesse dentro de mim.
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Gotas, Rui Vieira.

APLASTAMIENTO DE LAS GOTAS

Yo no sé, mira, es terrible cómo llueve. Llueve todo el tiempo, afuera tupido y gris, aquí contra el balcón con goterones cuajados y duros, que hacen plaf y se aplastan como bofetadas uno detrás de otro, qué hastío. Ahora aparece una gotita en lo alto del marco de la ventana; se queda temblequeando contra el cielo que la triza en mil brillos apagados, va creciendo y se tambalea, ya va a caer y no se cae, todavía no se cae. Está prendida con todas las uñas, no quiere caerse y se la ve que se agarra con los dientes, mientras le crece la barriga; ya es una gotaza que cuelga majestuosa, y de pronto zup, ahí va, plaf, deshecha, nada, una viscosidad en el mármol. Pero las hay que se suicidan y se entregan enseguida, brotan en el marco y ahí mismo se tiran; me parece ver la vibración del salto, sus piernitas desprendiéndose y el grito que las emborracha en esa nada del caer y aniquilarse. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adiós gotas. Adiós.

P.S1: Agradeço ao Pedro por ter me apresentado esse espetáculo pluvioso.
P.S2: Aqui tem mais Cortázar.