terça-feira, outubro 19, 2010

Ignorance is a bliss. Será mesmo?



Vou editar uma piadinha infame que recebi no meu e-mail e que tem a audácia de afirmar: “essa corrente não pode ser quebrada”.

No dia 02 de janeiro de 2011, um senhor idoso se aproxima do Palácio da Alvorada e, depois de atravessar a Praça dos Três Poderes, fala com o "Dragão da Independência" que monta guarda:
- Por favor, eu gostaria de entrar e me entrevistar com o Presidente Lula.
O soldado olha para o homem e diz:
- Senhor, o Sr. Lula não é mais presidente e não mora mais aqui desde ontem".
O homem diz:
- Está bem", e se vai.
No dia seguinte, o mesmo homem idoso se aproxima do Palácio da Alvorada e fala com o mesmo "Dragão":
- Por favor, eu gostaria de entrar e me entrevistar com o Presidente Lula”.
O soldado novamente diz:
- Senhor, como lhe falei ontem, o Sr. Lula não é mais presidente nem mora aqui desde anteontem. O senhor não entendeu?”
O homem olha para o soldado e diz:
- Sim, eu compreendi perfeitamente, mas eu ADORO ouvir isso!"

E eu lembro da música do Zé Ramalho: “Vocês que fazem parte dessa massa (...) Ê oô, vida de gado”...
Não tem nada que irrite mais do que comportamento de gado.
Claro que os incômodos são muitos. Primeiro é que eu não me sinto no direito de mandar e-mail de cunho político pra ninguém. Por que, então, meu Deus, eu recebo toda “essa droga que já vem malhada antes de eu nascer”? Quando muito compartilho artigos que julgo inteligentes e interessantes com pessoas que, sei, lerão tudo com olhos críticos. Não tenho intenção de doutrinar ninguém. Segundo, é que a piada diverge das minhas orientações políticas. Terceiro, e o que realmente me faz subir nas tamancas, é ver gente reproduzindo informação errada sem pensar. Suas orientações intelectuais são tão atiçadas pelo teor da piada que já não conseguem fazer a reflexão de que estão perpetuando preconceitos e reproduzindo construções míticas irreais.
Cansa-me ad nauseum constatar como é difundida uma idéia completamente deturpada de Brasília. A deturpação é tanta que fica evidente no desconhecimento da geografia da cidade, minha cidade. O Palácio da Alvorada fica lejos, mas muito distante mesmo, da Praça dos Três Poderes.
O que fica localizado à Praça é o Palácio do Planalto, sede da burocracia política do Executivo brasileiro. Ou seja, não se trata da residência oficial do Presidente da República, logo, faz todo sentido que ele não more lá.
Não bastasse a mídia escrachar Brasília com as piadinhas mais imbecis e reacionárias, do tipo: "os ladrões estão todos em Brasília, no Congresso Nacional", ainda sou obrigada a ver tamanho desconhecimento.
Aos críticos destrutivos que adoram uma simplificação, vou desenhar pra vocês: Brasília apenas recebe os ladrões que são eleitos nos 26 estados e num Distrito Federal, logo, proporcionalmente, os corruptos do DF estão em número inferior àqueles que vem ocupar temporariamente a sede do Poder Político. Eles ESTÃO aqui, mas não SÃO daqui e nem FORAM ELEITOS pela população do DF.
Hello! Deu pra entender? São vocês que despacham esses merdas pra cá. E viva as correntes migratórias da corrupção!
E pra falar a verdade, tem dia que dá vontade de me exilar, porque esse país parece história de ficção, folhetim de quinta. Um momento eleitoral tão importante para as pessoas discutirem projetos, planos de governo e vem a mídia irresponsável transformar tudo em circo, em guerra santa e fundamentalismo.
E os arrogantes ainda bradam, batendo no peito: isto é liberdade de imprensa.
É bem típico de um país que pensa que vive numa Democracia, mas que se deixa levar pelo primeiro rebuliço forjado para mudar o foco do debate.
Dilma ou Serra? Serra ou Dilma? O voto tem que ir para um e para outro baseado em programas e história político-partidária.
A gente já se ferrou votando num Salvador da Pátria – criado com a ajuda da Rede Globo – que não tinha nada a oferecer além da bandeira quimérica chamada "caça aos marajás".
É isso o que acontece quando esquecemos de fazer análise política e embarcarmos em construções míticas do herói solitário: elegemos dúzias de “Sebastiões” Collor de Mello.

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