quarta-feira, agosto 20, 2008

III

“Tenho pra mim que as tempestades e ventanias não são mais do que meras assombrações. Enquanto caminhamos certos de qualquer assertiva ou proposição que nos tranqüilize ou nos conduza rumo a um objetivo, elas surgem como parte de uma fantasmagoria evolutiva: será mesmo que apenas os fortes sobrevivem? Mas diante das tormentas, Darwin afoga-se em outras águas. A força de que falo nada tem a ver com músculos e físico. Os fortes são os que não afundam em seus próprios rios turvos; aqueles que não ficam presos no atoleiro das emoções ou sucumbem ao terreno movediço do desespero. E há dias em que tudo o que se quer é deixar-se levar pela correnteza, não lutar, não fazer um único movimento. Também isso é sinal de força? Ou apenas resignação? Qual o significado de deixar-se engolir pela baleia e permanecer em seu interior quente?
Em alguns dias, desejo a simplicidade dos ignorantes, invejo a risiliência dos humildes que desconhecem os livros, as teorias, os filósofos, os paradigmas, os paradoxos... Quanto de alento todo esse conhecimento traz? Entender a nossa condição, ainda que de modo precário, é antes tudo possuir uma inquietação e certa angústia por descobrirmos que até mesmo o livre arbítrio possui limitações que independem do nosso querer”.

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