quinta-feira, dezembro 01, 2005

N. da A.*

Resolvi postar esse texto do Betinho não para lembrar a dor, a morte... não.

Resolvi primeiro porque adoro o Betinho, ainda não me conformo de termos perdido um cidadão brasileiro como ele; segundo porque não é só um texto, é o depoimento emocionante de quem ama e luta pela vida; terceiro porque o tempo passou e a Aids ainda não tem cura, mas pode ser tratada.

Já não sinto tanto que as pessoas vivem sob o pânico da morte anunciada pela dor e abandono.

A ciência não pára de evoluir.
Quando penso que o AZT matou mais do que curou, lembro do Cazuza... ele poderia estar aqui cantando suas músicas e chocando as pessoas, se o tempo fosse outro... mas como ele disse: “ o tempo não pára”.

O texto do Betinho revela bem com o que essas pessoas tiveram que lidar há cinco, dez anos atrás. Elas conviveram com o terror, a falta de perspectiva, o derrotismo.

Frases como: “vou morrer”, “não sei o que me espera”... eram a tônica. Ora, ora e quem é que não vai morrer? Quem é que sabe?

Essas dúvidas não são privilégio de soropositivos, essas dúvidas são inerentes ao Ser Humano!

Eu também vou morrer! Eu não sei qual o futuro que me espera! Eu também sofro preconceitos de outras ordens.
Essas frases cabem perfeitamente no discurso de um soropositivo, de uma pessoa sem moléstia alguma, de um deprimido, de um suicida, de um faminto, de um desempregado, de um acidentado, de um pessimista...

Fica-me a pergunta: por quê? Por que estigmatizaram os doentes de aids como os paladinos dessas reflexões? Eles já têm que lidar com todos os fantasmas de uma nova realidade, isso não é suficiente?

Bem, deixo o texto do Betinho como uma mensagem de fé e de afeto, porque acredito em milagres, na transformação e nos recomeços!

Deus, em sua infinita bondade, concedeu-me a felicidade de presenciar dois milagres!
Ainda presenciarei outros. Não duvido.

* Nota da autora.

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