segunda-feira, outubro 25, 2004

Revisitando

Há três anos atrás, quando escrevi esse conto infantil, vivia um período difícil e confuso.
Hoje, relendo-o, compreendo seu valor, seu significado.
Espero que gostem.
http://nationalgeographic.com

A LENDA DO VAGA-LUME

- Para João Gabriel



Era uma vez, há muito tempo atrás, uma comunidade de vaga-lumes que morava num escuro matagal.
Dentre os vaga-lumes dessa comunidade, havia um muito diferente: ele não piscava. Não se sabia o motivo, mas sua luz nunca acendeu.
Andava para cá e para lá, sempre acompanhado pelo grupo que temia seu desaparecimento mata adentro. Mas o danado do bichinho era esperto que só ele!
No grupo, os mais jovens, por não entenderem a falta de luz do colega, faziam piadas e riam de seu defeito.
Quando ele ficava zangado com os tais deboches, corria ao encontro de D. Coruja.
D. Coruja – que era velha e muito sábia, já tinha vivido muitas aventuras e lido outras tantas nos livros – ensinou muitas coisas ao vaga-lume.
Um dia, ela contou-lhe uma história chamada "Lanterna Mágica". D. Coruja sabia como deixar as histórias tão mais interessantes, passava horas narrando cada detalhe.
O vaga-lume ouviu tudo encantado. Não sabia da existência de um objeto que acendia e apagava tal como ele.
Perdidos entre livros, a tarde passara e quando perceberam, já era noite.
- D. Coruja, muito obrigada por tudo, mas devo voltar para casa. Já é noite e mamãe deve estar preocupada.
- É mesmo! Ficou tarde e nem notamos. Boa noite amiguinho.
- Boa noite, D. Coruja.
Certo dia, o vaga-lume voltou à casa da amiga Coruja para ouvir mais histórias. Vendo que ela era mesmo muito sábia e inteligente, tomou coragem, encheu o peito de ar e perguntou:
- D. Coruja, por que minha luz não funciona?
Ela olhou bem nos olhos de seu amiguinho e falou:
- Eu estaria mentindo se dissesse que conheço o motivo. Realmente, não sei. Não entendo porque ela não funciona como a de todos os outros de sua espécie. Mas um dia você entenderá que existem outras formas de iluminar o mundo.
O vaga-lume não entendeu muito bem o que D. Coruja queria dizer, mas não perguntou mais nada. Agradeceu e foi passear na mata.
Já no caminho de casa, o pequeno vaga-lume viu um garotinho que estava perdido. Ele se afastou do acampamento e não conseguia achar o caminho de volta.
Ele ficou surpreso ao notar que o garotinho tinha mãos que acendiam e apagavam.
Ele aproximou-se do garoto e perguntou, curioso:
- Crianças são como vaga-lumes?
O menino, assustado, ouviu a voz, mas não viu ninguém:
- Quem está aí?
- Sou eu, um vaga-lume, disse, chegando bem perto do menino.
- Um vaga-lume? Onde está a sua luz?
- Sou diferente. Minha luz não acende.
O vaga-lume contou sua história ao garotinho, que ficou emocionado.
- Estou perdido. Você poderia me levar de volta ao acampamento? Se puder, dou um presente pra você.
- Eu ajudo você. Não precisa me dá nada, não.
O vaga-lume o guiou até o acampamento. Chegando lá, disse:
- Pronto. Já está entre os seus amigos. Agora preciso voltar pra casa. Tchau!
- Espere! Eu quero lhe dar um presente.
Colocou a mão no bolso e entregou-lhe o presente.
- Não eram as minhas mãos que brilhavam, mas uma lanterninha que sempre trago comigo. Agora é sua.
- Uma lanterna? Você vai me dar sua lanterna?
- Vou. Não preciso mais dela. E agora você poderá piscar como qualquer outro vaga-lume.
Ele agradeceu e partiu contente da vida, dando piruetas no ar.
Hoje, o vaga-lume que mais brilha e possui luz mais forte é Lanterna. É ele quem lidera o grupo nas noites escuras do matagal.

(Luciana Melo - 24/10/01 e modificado em 25/10/04)

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara Luciana-poeta, teu conto infantil me parece uma bela Fábula para qualquer idade. Nada como ganhar o que nos falta e ganhar algo sem interesse é melhor ainda.
E o sorriso? Sds, Pedro.

Lu disse...

Oi Pedro :)
É verdade, os presentes que são dados sem ocasião especial marcam muito.
Eu tive a felicidade de ser presenteada com um vaga-lume que ilumina a minha vida. Beijoca.

Lu disse...

Obrigada, mana. Eu só estou esperando ele ser alfabetizado. Prefiro que ele leia e tire suas conclusões. Beijão.